sábado, 5 de maio de 2012


As duas irmãs estavam sempre a inventar brincadeiras. A Maria era a mais velha e era quem organizava essas coisas. Ou era a professora e diante de uma plateia de bonecas todas sentadas umas atrás das outras, ficando a Joana (a irmã mais nova) sentada à frente, prontas para ouvir as explicações em Francês. Sim a Maria era a professora de Francês. Outras vezes brincavam aos escritórios, outras aos espectáculos e era uma roda viva, um abre e fecha naqueles cortinados que faziam de palco… que tempos imaginários aqueles…

Mas naquele dia, não havia brincadeira, elas estavam inquietas, pressentiam algo. Na  verdade quando o pai chegou a casa, trazia um sorriso estampado na cara, como se estivesse ansioso por revelar alguma coisa agradável e ao mesmo tempo quisesse prolongar o mistério por mais tempo. A sua postura era a de um homem desejoso de fazer as filhas felizes.

E foi então que, de mãos atrás das costas,  perguntou a ambas, qual a mão que queriam escolher, a esquerda ou a direita….elas gritavam ao mesmo tempo, esquerda, direita, enquanto saltitavam à volta do pai, na expectativa do que iria acontecer.

Escolhida a mão, o pai mostrou-a vazia. Elas pararam de saltitar e os rostos sorridentes transformaram-se, como um final de tarde em que o Sol dá lugar à noite fria. Só voltaram a sorrir quando o pai disse que aquela mão correspondia ao bolso do casaco, e sugeriu que espreitassem lá dentro.

Foi tal a surpresa, o entusiasmo, a gritaria quando tiraram do bolso  uma cadelinha tão pequenina, tão linda, quase a matavam de tanto apertar e de tanto a querer mimar…

Aquele dia ficou para sempre na memória da Maria e da Joana.

Maria Dias
Maio 2012

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