O
que o espelho me diz.....
Há
dias em que o espelho me mente e o que vejo me satisfaz, deve ser porque na
minha memória ainda permanecem os traços do antigamente.
Noutros
dias fico chocada com a realidade da imagem que tenho à minha frente – um
reflexo que pertence a mim mesma e que me diz exactamente o que já perdi – o
reflexo de uma imagem de uma mulher madura, em cujos ângulos não resta espaço
para a frescura de outrora.
Mas
hoje, ao olhar de relance para o meu espelho, a imagem que vi reflectida emergiu
perante um foco de luz, e quando ganhou nitidez não era exactamente eu. Mas era um rosto quase praticamente igual ao
meu. A aparente e enganadora imagem era o rosto da minha mãe.
Era
difícil de acreditar, mas aquela imagem fez-me estremecer, custava a acreditar
que aquela mulher fosse eu. A sua presença
fez-me vacilar “entre o eu e o ela” e fez-me estremecer quando aquele olhar me
acariciava.
Quis
fugir dali, mas não fugi. Senti a minha pele a ficar quente e depois fria e a
pulsação a latejar-me nas têmporas. Uma série de imagens vertiginosas surgiram
na minha cabeça. Havia qualquer coisa extremamente calma no olhar dela mas eu
estava em estado de choque obviamente, embora sem ter a noção disso.
O
meu coração batia acelerado ao mesmo tempo que aquele rosto se tornava cada vez
mais jovem e mais deslumbrante. Eu sabia que na sua juventude, ela fora muito
bonita, de longe mais bonita que eu. Extasiada com a sua beleza, foi com
surpresa que vi aquela mulher envelhecer numa fracção de segundos -nada dura para
sempre- e a doce recordação deu lugar a uma imagem que me arrepia e que quero
esquecer, a imagem do seu rosto na hora de partir.
Março 2016
Sem comentários:
Enviar um comentário