terça-feira, 22 de novembro de 2016


Ela era feliz e não sabia. Agora sentia saudades de tudo o que tinha deixado para trás. Até da rotina aborrecida do dia-a-dia. Ah... como só agora se dava conta de que era feliz. Desde que dera entrada naquele hospital tudo mudara. Encostada à sua escuridão, sentia que o sonho já não fazia parte do momento, sentia era o pesadelo agitar-se dentro de si, como um friso de água surgindo de um oceano e a avolumar-se numa onda; uma onda de sofrimento. Tinha medo, muito medo. Medo de que fosse tarde para agarrar a vida que deixara parada,
-daquela vida- a que ela chamava de “pasmaceira”.

Mas tinha que se libertar de pensamentos depressivos. Afinal não foram esses pensamentos que a arrastaram para uma indiferença vivida? E agora dava tudo para mudar de atitude. Só se perguntava se ainda iria a tempo.

Recostou-se na cadeira e fitou abstraída a paisagem fora da janela. Era simplesmente um pátio, com algumas árvores e algumas flores.  Estava-se em Novembro.  Novembro era o mês que ela menos gostava, um mês de luz minguante, um mês incerto que se arrastava entre o Outono e o Inverno. Mas ainda cheirava mais a Outono que a Inverno. As árvores ainda não estavam despidas. Tinham as folhas acobreadas. Ainda viu rosas abertas e reparou que o céu estava azul e com nuvens.... Nuvens de várias formas, sugerindo tanto coisa no seu imaginário. Mas como é que ela nunca reparava em nada e naquele momento, naquela quarto de hospital lhe deu para observar e ver com outros olhos a natureza.

Algo se agitou dentro de si. Fechou os olhos.... desejou voltar a sua casa, à sua vida simples, àquela vida de “pasmaceira”... prometeu a si mesma, e se ainda fosse a tempo, nunca mais se queixar dessa vida.

Compreendia que a vida, o mundo e o futuro estavam lá fora à sua espera. Afinal ser feliz....era precisamente o queria ser.


Novembro 2016



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