quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Pena que os "mais ocupados" não tenham tempo para ler este artigo, mas mesmo assim partilho...
São muitas as desculpas que temos para viver sem tempo e ninguém pára para pensar que esse tempo, 
que dizemos que não temos, é tempo de vida que perdemos. Se não temos tempo, é porque é tempo de
repensar o tempo.





Vivemos num tempo de aceleração. Tudo se passa a correr e cada vez mais queremos que as coisas sejam rápidas. Arranjamos artefactos que nos permitam ser rápidos, sempre com a desculpa que somos muito ocupados. Cada um de nós se acha o mais ocupado, o mais atarefado (é ou não é verdade?). Se trabalha é porque trabalha, se está em casa é porque está em casa, se tem um filho único é porque tem um filho único, se tem três é porque já são tem três. Se tem um horário é porque tem um horário, se não tem um horário  é porque não há uma rotina. Se vai à ginástica é porque vai à ginastica,se não vai à ginástica é porque nem sequer tem tempo de ir à ginástica.
Enfim, são muitas as desculpas que temos para viver sem tempo. E então, a sociedade acelera para acompanhar os ritmos das pessoas, tornando tudo alucinante e impessoal.  Compra-se tudo feito. Os carros andam rápido. E as coisas, ou estão há distância de um clique ou é já uma “perda de tempo”. Está-se meses sem estar com os amigos. E a desculpa é sempre a mesma: ” Estou muito atarefada” ” Estou exausta” “Ando sempre a correr”.
E ninguém abranda. E ninguém pára para pensar que esse tempo, que dizemos que não temos, é tempo de vida que perdemos.
Vamos vivendo o dia a dia atropelados em tarefas, sempre com o mesmo discurso. Mas, se não temos tempo, é porque é tempo de repensar o tempo. De dizer chega, de voltar ao tempo onde nos sentávamos à mesa, nos juntávamos ao fim de semana. Que escrevíamos cartas (ou até mesmo que falávamos ao telefone sem ser para dar um recado mas para saber verdadeiramente do outro).
Temos de perceber que não nos devemos orgulhar de não ter tempo, mas pensar o que podemos fazer para voltar a ter tempo. Porque quando isto chegar ao fim vamos olhar para trás e  dizemos: passou a correr e ouve tanta coisa que eu não vi.
Não aprofundamos relações, não conseguimos ESTAR com o outro. Já ninguém faz um telefonema para dar os parabéns no aniversário de um amigo. Deixa uma mensagem no facebook.
Já ninguém manda um cartão de boas vindas a um bebé acabado de nascer. Faz um gosto no Instagram. Até responder a um mail se tornou complicado “desculpa, não tive tempo de responder…”
O nosso saber também ele está a ficar contaminado com este ritmo pois aquilo que acreditamos é aquilo que nos impingem aqui ou ali, que lemos transversalmente numas letras gordas numa qualquer rede social e torna-se verdade absoluta. Concordamos e, em vez de investigar, partilhamos com o mundo esse tal saber que nos pareceu fazer sentido. E assim se torna uma asneirada viral (ou uma asneirada total).
E assim lá vamos andando nós, muito depressa, desatentos e desfocados sem certezas de nada, mas com a certeza absoluta que somos mesmo muito ocupados.

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