sábado, 26 de março de 2016

O que o espelho me diz.....

Há dias em que o espelho me mente e o que vejo me satisfaz, deve ser porque na minha memória ainda permanecem os traços do antigamente. Noutros dias fico chocada com a realidade da imagem que tenho à minha frente – um reflexo que pertence a mim mesma e que me diz exactamente o que já perdi – o reflexo de uma imagem de uma mulher madura, em cujos ângulos não resta espaço para a frescura de outrora.
Mas hoje, quando ao olhar de relance para o meu espelho, a imagem que vi reflectida emergiu perante um foco de luz, e quando ganhou nitidez não era exactamente eu.  Mas era um rosto quase praticamente igual ao meu. A aparente e enganadora imagem era o rosto da minha mãe. Era difícil de acreditar, mas aquela imagem fez-me estremecer, custava a acreditar que aquela mulher fosse eu. A sua presença  fez-me vacilar “entre o eu e o ela” e  fez-me estremecer quando aquele olhar me acariciava. Quis fugir dali, mas não fugi. Senti a minha pele a ficar quente e depois fria e a pulsação a latejar-me nas têmporas. Uma série de imagens vertiginosas surgiram na minha cabeça. Havia qualquer coisa extremamente calma no olhar dela mas eu estava em estado de choque obviamente, embora sem ter a noçao disso.
O meu coração batia acelerado ao mesmo tempo que aquele rosto se tornava cada vez mais jovem e mais deslumbrante. Eu sabia que na sua juventude, ela fora muito bonita, de longe mais bonita que eu. Extasiada com a sua beleza, foi com surpresa que vi aquela mulher envelhecer numa fração de segundos -nada dura para sempre- e a doce recordação deu lugar a uma imagem que me arrepia e que quero esquecer, a imagem do seu rosto na hora de partir.



Março 2016


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