No bairro havia uma
taberna
que servia de
carvoaria
uma capelista e uma
padaria
um lugar de frutas e
legumes
e uma grande mercearia
Na taberna
comprava-se o vinho
da adega cooperativa
levava-se a garrafa
a encher
ou ía o pai, ou o
filho sozinho,
porque a mãe tinha
mais que fazer
No Inverno
comprava-se
carvão em brasa,
para aquecer as
braseiras
de cada casa
as braseiras das
camilhas
algumas feitas de
croché
com agulhas de metal
que serviam também
para as colchas e
naperons
a enfeitar o
pechiché...
sim, porque o normal
era a dona de casa
fazer sempre o seu
tricô
enquanto as crianças
jogavam o iô-iô…
Os rapazes jogavam futebol
com uma bola de
trapos,
enquanto as
raparigas
limpavam os pratos
Na capelista
compravam-se
as linhas, agulhas e
botões
coisas de costura….
porque as lojas de
pronto a vestir
eram raras
e só os ricos lá
podiam ir
porque eram caras.
Na mercearia
compravam-se
secos e molhados
tudo era pesado na
balança
e para os pobres
havia os fiados,
compravam açúcar
a prestações,
pagavam no final do
mês
quando recebiam
os ordenados.
Na padaria
compravam-se
carcaças com maminha
amassadas à mão,
e bolos feitos de
farinha
que mais pareciam
pão,
porque os bolos
finos
eram vendidos na
pastelaria,
os éclairs,
mil-folhas,
de tamanha iguaria
para derreter o
coração.
Nos cafés havia
estudantes
que se sentavam a
estudar
e velhos a ler o
jornal…
um café, um bagaço,
um cigarro de
enrolar,
num silêncio total
Ouvia-se na rua
o gemido dos
eléctricos
ou os autocarros da
carris
a resfolegar,
num som banal…
mais parecendo um
som
de embalar
Não havia
televisões,
havia tempo…
fumavam-se cigarros
enrolados
ou cachimbo,
algumas tertúlias ….
para entreter os
corações
Telefonava-se das
cabines telefónicas
pois não existiam
telemóveis,
e na oficina
consertava-se tudo…
desde frigoríficos,
fogões
radios e até móveis
No sapateiro
punham-se meias solas
havia um par de
sapatos de Inverno
e outro de Verão,
davam-se facilmente
esmolas
assim pedia o nosso
coração
Era assim a classe
média
a classe “remediada”,
não sentia falta do
que
não existia… para nada....
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