domingo, 29 de março de 2020

Antigamente era assim...(assim contavam os meus pais)

No bairro havia uma taberna
que servia de carvoaria
uma capelista e uma padaria
um lugar de frutas e legumes
e uma grande mercearia

Na taberna comprava-se o vinho
da adega cooperativa
levava-se a garrafa a encher
ou ía o pai, ou o filho sozinho,
porque a mãe tinha mais que fazer

No Inverno comprava-se
carvão em brasa,
para aquecer as braseiras
de cada casa

as braseiras das camilhas
algumas feitas de croché
com agulhas de metal
que serviam também
para as colchas e naperons
a enfeitar o pechiché...
sim, porque o normal
era a dona de casa
fazer sempre o seu tricô
enquanto as crianças
jogavam o iô-iô…

 Os rapazes jogavam futebol
com uma bola de trapos,
enquanto as raparigas
limpavam os pratos

Na capelista compravam-se
as linhas, agulhas e botões
coisas de costura….
porque as lojas de pronto a vestir
eram raras
e só os ricos lá podiam ir
porque eram caras.

Na mercearia compravam-se
secos e molhados
tudo era pesado na balança
e para os pobres
havia os fiados,
compravam açúcar
a prestações,
pagavam no final do mês
quando recebiam
os ordenados.

Na padaria compravam-se
carcaças com maminha
amassadas à mão,
e bolos feitos de farinha
que mais pareciam pão,
porque os bolos finos
eram vendidos na pastelaria,
os éclairs, mil-folhas,
de tamanha iguaria
para derreter o coração.

Nos cafés havia estudantes
que se sentavam a estudar
e velhos a ler o jornal…
um café, um bagaço,
um cigarro de enrolar,
num silêncio total

Ouvia-se na rua
o gemido dos eléctricos
ou os autocarros da carris
a resfolegar,
num som banal…
mais parecendo um som
de embalar

Não havia televisões,
havia tempo…
fumavam-se cigarros enrolados
ou cachimbo,
algumas tertúlias ….
para entreter os corações

Telefonava-se das cabines telefónicas
pois não existiam telemóveis,
e na oficina consertava-se tudo…
desde frigoríficos, fogões
radios e até móveis

No sapateiro punham-se meias solas
havia um par de sapatos de Inverno
e outro de Verão,
davam-se facilmente esmolas
assim pedia o nosso coração

Era assim a classe média
a classe “remediada”,
não sentia falta do que
não existia… para nada....






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