domingo, 19 de fevereiro de 2012

Ó tempo volta para trás?


Depois de ler no Expresso uma crónica escrita pela Clara Ferreira Alves...deu-me para
brincar com o tema
e aqui fica o poema:

Ó tempo volta pra trás
Dá-me tudo o que eu perdi…..
Já dizia a canção…
Era um fado
De Antonio Mourão!

No bairro havia uma taberna
Que servia de carvoaria,
Uma capelista,
Uma padaria,
Um lugar de frutas e legumes,
E uma grande mercearia.

Na taberna comprava-se o vinho
Da adega cooperativa,
Levava-se a garrafa a encher,
Ou ía o pai, ou o filho sòzinho,
Poque a mãe tinha mais que fazer.

No Inverno comprava-se
Carvão em brasa,
Para aquecer as braseiras
De cada casa.

As braseiras das camilhas,
Algumas feitas de croché
Com agulhas de metal,
Que serviam também
Para as colchas e naperons
A enfeitar o pechiché.
Sim, porque o normal
Era a dona de casa
Fazer sempre o seu tricô
Enquanto as crianças
Jogavam o iô-iô…

E os rapazes jogavam futebol
Com uma bola de trapos,
Enquanto as raparigas
Limpavam os pratos

Na capelista compravam-se
As linhas, agulhas e botões
Coisas de costura….
Porque as lojas de pronto a vestir
Eram raras
E só os ricos lá podiam ir
Porque eram caras.

Na mercearia compravam-se
Secos e molhados
Tudo era pesado na balança
E para os pobres
Havia os fiados.
Compravam açúcar
A prestações,
Pagavam no final do mês
Quando se recebiam
os ordenados.

Na padaria compravam-se
Carcaças com maminha
Amassadas à mão,
E bolos feitos de farinha
Que mais pareciam pão,
Porque os bolos finos
Eram vendidos na pastelaria,
Os éclairs, mil-folhas,
De tamanha iguaria
Para derreter o coração.

Nos cafés havia estudantes
Que se sentavam a estudar,
E velhos a ler o jornal…
Um café, um bagaço,
Um cigarro de enrolar,
Num silêncio total.
Ouvia-se na rua
O gemido dos eléctricos
Ou os autocarros da carris
A resfolegar,
Num som banal…
Mais parecendo um som
De embalar.

Não havia televisões,
Havia tempo…
Fumavam-se cigarros enrolados
Ou cachimbo,
Algumas Tertúlias ….
Para entreter os corações.

Telefonava-se das cabines telefónicas
Pois não existiam telemoveis,
E na oficina consertava-se tudo…
Desde frigorificos, fogões
Radios e até móveis

No sapateiro punham-se meias solas
Havia um par de sapatos de Inverno
E outro de Verão,
Davam-se facilmente esmolas
Assim pedia o nosso coração.

Era assim a classe média
A classe remediada,
Não sentia falta do que
Não existia… para nada.

É para este tempo
Que nos querem fazer
Regressar?
Tarde mais
Para se voltar.

A globalização
É escolha e abundância,
É troca, é o estado supremo
Da civilização

Essa civilização descartável
E virtual,
É o mundo insustentável
Que o capitalismo
Construiu
E que parece que deixou de servir
Porque ruiu!

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