sexta-feira, 27 de junho de 2014

Nas sombras da madrugada
Escuto o silêncio da escuridão
Não tenho relógio nem nada
Senão ouviria o tic tac …
Mas só ouço o meu coração

O meu coração está apertadinho
E quer saltar do meu peito
Tem segundos que geme baixinho
Outros canta, mas do mesmo jeito

Se choras, ao menos embala-me
E leva-me nas asas da fantasia…
Se cantas, ao menos fala-me
De amor, de paz e de poesia


Maria Dias
27.Junho.2014 às 5h da madrugada


Insónia


Entraste Insónia maldita
Sem ninguém te convidar
O que queres oh desdita
Que eu não queria acordar

Despertas os meus sentidos
Revoltas os meus pensamentos
São momentos perdidos
num turbilhão de sentimentos

Por favor tem dó e vai-te embora
Liberta-me e à minha mente
Deixa-me no aqui e agora
Quero dormir serenamente

Se ao menos a inspiração
Viesse contigo para ficar
Esqueceria de todo a razão
Porque vieste me atormentar



Maria Dias
27.Junho.2014 às 4h da madrugada

quarta-feira, 25 de junho de 2014

A roupa estendida ao vento
Parece gente a viver
Move-se em gestos sem tento
Perante o meu pensamento
Que não sabe senão ver.

Mas o que fazem no mundo
Os homens nos gestos seus
Nada é mais firme ou profundo
Que este ar nas roupas ao fundo
Dos grandes quintais de Deus.

E eu no meu solene estudo
De como as cousas não são,
No qual compreendo tudo,
Vejo o branco agitar mudo
Da roupa sem coração.

E lembro, por diferença,
A semelhança que há
Entre a agitação intensa
Da roupa livre e suspensa
E aquela em que o homem está.

Ao sol e ao vento da vida
Livre e preso sob os céus
Oscila, coisa movida,
Mas é só roupa estendida
Nos grande quintais de Deus

Fernando Pessoa

terça-feira, 24 de junho de 2014

Para o mês de Julho/Agosto seguiu o meu contributo para o Boletim da Arpic:

O CANTINHO DA POESIA, PENSAMENTOS,  CONTOS E OUTROS….


Mês de Julho a chegar, férias à porta.
Acabámos o nosso ano de actividades na Academia. Esta proporciona-nos um envelhecimento activo, uma constante aprendizagem e um saudável convívio…




Somos jovens seniores
E aqui estamos unidos,
Se brincamos como juniores
É porque somos divertidos

Queremos ainda aprender
Abraçar uma nova etapa,
E não são os fios de prata
Que nos impedem de o fazer

Brincar ao teatro seriamente
Ser actores por alguns momentos,
Realizar sonhos de antigamente
Demonstrar nossos sentimentos

Na vida activa faltava-nos tempo
Para dar largas aos nossos ideais
Agora é aproveitar o encantamento
De os realizar, e de tudo o mais…

Na nossa vida queremos alegria
Mente ocupada para não parar,
Viver felizes e em harmonia,
Corpo a mexer para não enferrujar

Já não somos juniores
Mas somos jovens seniores,
E é este o nosso grito
“Ser jovens de espírito”








Maria Dias

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Do outro lado do espelho

Acabou. O espectáculo acabou. Ela regressa ao camarim e antes de se despir, senta--se em frente ao espelho.
A imagem que vê reflectida é a de uma boneca, boca em forma de coração, sardas, e tranças espetadas. Os olhos, esses ainda trazem um pouco da magia do palco. 

Mas pouco a pouco vão atraiçoando aquele rosto de boneca e acabam por não condizer com a expressão de marioneta. Começa por desfazer as tranças, desmaquilha-se e aqueles olhos finalmente começam a encaixar no rosto da nova personagem.
Pena que esta personagem seja a verdadeira, a do mundo real. Duas lágrimas deslizam pelo rosto meio desmaquilhado, um rosto ainda entre a marioneta e a personagem real. Ela queria continuar em palco a vida inteira, dar àquelas crianças o seu amor, vê-las sorrir e ficarem encantadas com aquele mundo de magia. Aquele mundo que, por momentos, a faz esquecer a sua solidão, a sua dor.
Mas a realidade está sempre do outro lado do espelho, uma realidade amarga, que já reflecte a imagem de uma mulher triste, com olhar vago e distante.
Ah como daria tudo para, quando se levantasse amanhã e olhasse de novo no espelho, visse apenas a imagem da boneca que a faz feliz, aquela imagem que faz vibrar os corações das crianças, porque em cada rosto de uma criança a sorrir, ela vê o sorriso da filha que perdeu.



Maria Dias