Ela era
feliz e não sabia. Agora sentia saudades de tudo o que tinha deixado para trás.
Até da rotina aborrecida do dia-a-dia. Ah... como só agora se dava conta de que
era feliz. Desde que dera entrada naquele hospital tudo mudara. Encostada à sua
escuridão, sentia que o sonho já não fazia parte do momento, sentia era o
pesadelo agitar-se dentro de si, como um friso de água surgindo de um oceano e
a avolumar-se numa onda; uma onda de sofrimento. Tinha medo, muito medo. Medo
de que fosse tarde para agarrar a vida que deixara parada,
-daquela
vida- a que ela chamava de “pasmaceira”.
Mas tinha
que se libertar de pensamentos depressivos. Afinal não foram esses pensamentos
que a arrastaram para uma indiferença vivida? E agora dava tudo para mudar de atitude.
Só se perguntava se ainda iria a tempo.
Recostou-se
na cadeira e fitou abstraída a paisagem fora da janela. Era simplesmente um
pátio, com algumas árvores e algumas flores.
Estava-se em Novembro. Novembro era o mês que ela menos gostava, um mês de luz minguante,
um mês incerto que se arrastava entre o Outono e o Inverno. Mas ainda cheirava
mais a Outono que a Inverno. As árvores ainda não estavam despidas. Tinham as
folhas acobreadas. Ainda viu rosas abertas e reparou que o céu estava azul e
com nuvens.... Nuvens de várias formas, sugerindo tanto coisa no seu
imaginário. Mas como é que ela nunca reparava em nada e naquele momento, naquela
quarto de hospital lhe deu para observar e ver com outros olhos a natureza.
Algo se agitou dentro de si. Fechou os olhos.... desejou voltar a
sua casa, à sua vida simples, àquela vida de “pasmaceira”... prometeu a si
mesma, e se ainda fosse a tempo, nunca mais se queixar dessa vida.
Compreendia
que a vida, o mundo e o futuro estavam lá fora à sua espera. Afinal ser
feliz....era precisamente o queria ser.
Novembro
2016