sexta-feira, 31 de agosto de 2012


As pedras da calçada
Gemiam baixinho
Com numa canção de embalar,
“Não percas a esperança”
“Não percas a esperança”
E caminhando devagarinho
Pensava que queria acreditar
Queria voltar a acreditar..
E foi ao dobrar da esquina
Que a vi a sorrir…
Sorrateiramente a espreitar,
Com um olhar traquina,
E com um sorriso tímido
Olhou-me nos olhos
E disse-me
Volta a acreditar…
Eu sou a esperança
E contigo quero ficar!


Maria Dias
31.Agosto.2012



terça-feira, 28 de agosto de 2012


O dia estava cinzento quando acordei,
O Sol ainda dormia e estava escondido,
Fiquei triste, mas de imediato desejei
Agarrar o mundo, esse mundo deprimido.

Virá-lo e colocá-lo  numa grande tela,
Para o pintar de muitas e alegres cores,
E poder realizar os meus desejos nela
Como miscelânia de tintas multicolores!

Depois poderia agarrar o mundo cheio de cor,
Poderia morar nele e com tudo de bom sonhar    
Ver os povos em união a viverem com amor,
Cantarem canções alegres e de embalar!


Maria Dias
Agosto 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012


O seu olhar deslizou para o lado
Pousando no vidro frio do espelho,
(Ela raramente olhava para o espelho)…
Quedou-se de um modo velado.
Durante o tempo que decorrera
em que encontrara o seu eco,
Algo desaparecera.
Olhou-se…
Avaliou-se…
Sabia o que perdera,
Este reflexo agora pertencia
a uma mulher adulta,
substituia o outro que não esquecia,
mas que partiu, já não existia.
Não restava espaço para a juventude
Para a frescura de outrora,
Restava apenas a plenitude
Restava apenas a serenidade,
Concedidas pela idade,
A gozar ainda pela vida fora!

Maria Dias
Agosto 2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012


Um olhar…
Apenas um olhar,
Através de um olhar,
Tudo se pode revelar
Mesmo sem falar.

E quando a boca mente,
O olhar,  esse desmente,
Envergonhadamente,
Descaradamente.

A alma abre a janela
E através dela,
Tudo se revela
Com, ou sem cautela.

E mesmo sem mentir,
A essência do sentir,
Vai-nos transmitir
O que não podemos ouvir.

Basta aquele olhar
Basta o silêncio ímpar!


Maria Dias
Agosto 2012





segunda-feira, 20 de agosto de 2012


A lua tem fases
Nós também as temos.
As da lua são ciclicas,
As nossas não o são,
Delas nem nos apercebemos,
Ultrapassam a razão,
E tantas vezes dizemos
“São fases”…
E as más somos capazes
De as ultrapassar,
E nas boas queremos
Permanecer, ficar.

Eu, Nós e a Lua….
De mãos dadas
Andamos pela rua,
Perdemo-nos na escuridão,
Agarramos as estrelas,
Pintamos nossa imaginação
Como se fossem telas,
E assim vamos prosseguindo
Embalados pelo coração!


Maria Dias
Agosto 2012

quinta-feira, 16 de agosto de 2012


Muitas vezes basta
Ser colo que acolhe,
Braço que envolve
Lágrima que corre,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que comove.


Maria Dias
Agosto 2012

domingo, 12 de agosto de 2012


Se eu fosse areia e tu fosses mar
Perdia-me na tua imensidão,
Esperava que me viesses visitar
Para nos perdermos até mais não.

Escutávamos os dois as gaivotas
E entrelaçávamo-nos a namorar,
Lembrávamos as coisas mais remotas
Ficávamos assim abraçados a sonhar.


Maria Dias
Agosto 2012

É necessário abrir os olhos
E perceber as coisas boas
Que estão dentro de nós,
Onde os sentimentos
Não precisam de motivos,
Nem os desejos de razão,
O importante é aproveitar
O momento, e aprender
A sua duração,
Pois a vida está nos olhos
De quem a sabe ver
E a sentir no coração!


Maria Dias
Agosto 2012

terça-feira, 7 de agosto de 2012


Um abraço vale mais
Que mil palavras…
Um abraço serve
Para todas as ocasiões,
Estejas feliz ou triste
Conforta os corações.
O abraço é a palavra
Que tu queres ouvir
E o carinho a dividir,
que queres receber.
Um simples abraço
Te faz desistir de morrer
E continuares a viver!


Maria Dias
Agosto 2012





domingo, 5 de agosto de 2012


Amei-te demais, para não te odiar,
Talvez porque o amor e o ódio
São irmãos na paixão,
Queria continuar a amar-te
Abrir-te o meu coração
E não mais odiar-te.

Deixei o passado para trás,
E deixei o futuro ser,
Quis mais e mais, aliás
Deixei o futuro acontecer.
Segui os caminhos do coração
Caminhos de coragem,
Esqueci os caminhos da razão
Para enfrentar uma viragem.

A vida é mesmo um risco
E o coração está sempre pronto
Para os riscos enfrentar,
A vida é amor, é confiar
E se não estamos mortos
Desejamos lutar,
Não mais odiar,
Desejamos apenas amar!


Maria Dias
Agosto 2012




sexta-feira, 3 de agosto de 2012



Ela fitou-o em silêncio
E nas palavras tropeçou,
Receou o mau prenúncio,
Despiu os seus pensamentos
O seu coração parou,
Esqueceu os encantamentos
E o silêncio quebrou,
Não com palavras,
Mas com lágrimas
Lágrimas amargas,
E novamente,
Amargamente,
Deseperadamente,
Nas palavras tropeçou!

Maria Dias
Agosto 2012

quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Gostavas de ter fé…
Querias muito acreditar
Que algo de bom aconteça,
Ficares alerta e de pé,
E parares de sonhar
Apenas porque o sonho
se tornou realidade,
ah como desejas que isso
se torne uma realidade!


Maria Dias
Agosto 2012



A assombração

Ela nunca tinha recuperado da sua ausência. Mesmo depois de saber que ele nunca mais voltaria. As noticias finais da sua morte tinham-na deixado prostrada e mesmo incrédula entregara-se ao luto, sofrendo muito, mas lentamente, como se nunca mais quisesse acordar para a vida.
Estava a deslizar para fora do tempo. As delimitações que observava no espaço de uma vida, perdiam subitamente o significado: segundos, minutos, horas, dias. Meras palavras, tudo o que queria ter, eram momentos como no passado, e esses já nem sequer lhe pertenciam.
Tinham sido tão felizes naquela quinta, naquela casa, aninhada a um canto do prado. Este estava cercado de bosques de cerejeiras bravas, bordos e carvalhos.
Mergulhada nos seus pensamentos, ouviu uma rajada de vento que levantou um redomoionho de folhas secas, que esvoaçaram pelo pátio emitindo um som de uma vassoura de plumas; algumas delas rasparam ao de leve contra as vidraças. Mas logo acalmou. O vento deu lugar a uma suave brisa, convidativa a um passeio.
Ela saiu e ficou a observar o Sol a pôr-se sobre o descampado. Gostava de sguir-lhe o rasto enquanto deslizava por entre o arvoredo.
O mundo há anos fechado lá fora, chamava-a de súbito para continuar a caminhar.
Quase na saída da quinta começou a ficar uma neblina dificultando a visão para a estrada. Resolveu voltar. Mas quando ía virar algo estranho aconteceu. Pareceu-lhe ver um vulto, mais parecendo uma assombração.
Deveria estar alucinada e quis apressar o passo, mas ao mesmo tempo sentia-se paralisada pela indecisão entre voltar e ficar, sem saber porque estava ali parada, com as mãos enterradas nos bolsos do casaco.
Tremia a pensar que não devia ter saído a uma distância tão grande e já ao entardecer. Mas o vulto aproximava-se lentamente… era um homem que caminhava num andar lento e trôpego.
Ela susteve a respiração à espera que ele se aproximasse, que ele falasse, decorreu um momento longo, durante o qual imaginou tudo menos o que viu e escutou.
- Laura sou eu. Já não me reconheces?
Mas ela já tinha desmaiado e foi ele, mesmo fraco, que  teve de a amparar para chegarem a casa.
Como era possível estar a olhar para o Rodrigo, que sabia estar morto e que nunca mais voltaria daquela maldita comissão.
Mas era verdade. O Rodrigo não tinha morrido, a carta que recebera há alguns anos tinha sido um engano.
Ela ainda estava em choque. E só aos poucos recuperava para a realidade.
Lembrava-se, em tempos, que lhe dissera que há um ponto em todas as histórias, a partir do qual, é impossível voltar atrás...Mas desta vez chegou mesmo a um ponto possível de voltar atrás, e de recuperar a felicidade perdida.


Maria Dias
Agosto 2012