quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Poema de António Gedeão dito por Odete Santos (que faleceu hoje dia 27.Dez.2023)

Luísa sobe, sobe a calçada,

sobe e não pode que vai cansada.

Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.

Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.

Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa, larga que larga,[x 4]
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga,[x 4]

Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada, [x 3]

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.




sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Escrito em 2016 o sentimento continua o mesmo

Neste Natal não quero essa troca de artigos que não se abrem em solidariedade. Não quero saber de cartões a granel, vazios de originalidade.

Não quero amarguras que se guardam como lixo debaixo do tapete.

Não quero ver à minha volta sofrimento, fome, guerra -sinto um aperto no coração com o horror dos inocentes que sofrem- no maior contraste àqueles que andam num corre corre ao consumismo-
Tragam a Paz, simplesmente a paz. Pode vir embrulhada e adornada com laços de todas as cores ou simples.
Sim, eu sei que é uma ambição que tem asas, mas não voa.

Se eu fosse um pássaro para a trazer para a terra, mesmo sem ser enfeitada de Natal, trazia-a singela e pura para a distribuir por esse mundo fora.
Como não sou um pássaro e só voo a sonhar, posso apenas tentar alcançar a paz ao meu redor, começando pela paz na família e com os amigos.

Quero evocar as recordações mais ternas: o aconchego, o carinho, o cheirinho, o abraço terno e a partilha.
“Que em cada um de nós possa nascer ou renascer o poder de amar”
“Que em cada um de nós haja o desejo de partilha”
“Que todas as crianças do mundo tenham o direito a sorrir”



domingo, 10 de dezembro de 2023

O que me entristece é que, cada vez mais, são os próprios humanos que menos se respeitam a si próprios, desrespeitando- -se uns aos outros.

 Dia internacional/Nacional dos Direitos Humanos

“Os Nossos Direitos. As Nossas Liberdades. Sempre” os direitos inalienáveis a cada cidadão e a necessidade de um empenhamento contínuo no sentido de os respeitar.
O que me entristece é que, cada vez mais, são os próprios humanos que menos se respeitam a si próprios, desrespeitando- -se uns aos outros.










sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

A 8 de Dezembro suicida-se Florbela Espanca no dia em que fazia 36 anos


"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!"