domingo, 30 de novembro de 2014
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Do
outro lado do espelho
Acabou.
O espectáculo acabou. Ela regressa ao camarim e antes de se despir, senta-se em
frente ao espelho.
A
imagem que vê reflectida é a de uma boneca, boca em forma de coração, sardas, e
tranças espetadas. Os olhos, esses ainda trazem um pouco da magia do
palco.
Mas pouco a pouco vão
atraiçoando aquele rosto de boneca e acabam por não condizer com a expressão de
marioneta. Começa por desfazer as tranças, desmaquilha-se e aqueles olhos
finalmente começam a encaixar no rosto da nova personagem.
Pena
que esta personagem seja a verdadeira, a do mundo real. Duas lágrimas deslizam
pelo rosto meio desmaquilhado, um rosto ainda entre a marioneta e a personagem
real. Ela queria continuar em palco a vida inteira, dar àquelas crianças o seu
amor, vê-las sorrir e ficarem encantadas com aquele mundo de magia. Aquele
mundo que, por momentos, a faz esquecer a sua solidão, a sua dor.
Mas
a realidade está sempre do outro lado do espelho, uma realidade amarga, que já
reflecte a imagem de uma mulher triste, com olhar vago e distante.
Ah
como daria tudo para, quando se levantasse amanhã e olhasse de novo no espelho,
visse apenas a imagem da boneca que a faz feliz, aquela imagem que faz vibrar
os corações das crianças, porque em cada rosto de uma criança a sorrir, ela vê
o sorriso da filha que perdeu.
Maria Dias
domingo, 16 de novembro de 2014
Hoje é dia do mar, dizem....
O
mar é espaço da nossa identidade colectiva e um horizonte aberto. Descanso os
olhos na sua beleza e perante essa imagem abrem-se os meus sentidos e isso acalma-me.
Há
uma magia especial que denuncia um sentimento intemporal.
Queria
pegar em algumas palavras para traduzir a ideia dessa magia, mas não consigo adjectivos
que possam definir a sua beleza e o seu efeito na minha mente.
Uma
magia que traduz sentimentos controversos: a pequenez perante tamanha
imensidão, a serenidade, que se transforma por vezes em ira, que provoca o
temor contra a sensação de calma na maioria das vezes transmitida, enfim uma
infindável mistura de sentimentos.
E é
quando ele demonstra a sua fúria, o seu poder sobre a terra parecendo querer
engoli-la que se torna assustador e nos reduz a uma indefesa pequenez.
Talvez
seja esse poder, que oscila entre a serenidade e a fúria, que nos transmite uma
enorme sensação do mistério que nos rodeia, perante tamanha beleza “O mar”.
Maria Dias
Era perfeito. Sim,
esse teu mundo era perfeito. O mundo que fazia parte dos teus sonhos; olhavas o
céu e decidias agarrá-lo como se fosse uma tela; depois, pensavas em pintá-lo
de muitas cores. Eu sei, sim eu sei, que não gostas da vida a preto e branco. Gostas
de cor, de muita cor. Até as gotículas da água da chuva se transformavam em
pétalas de flores. Com elas fazias as tintas, os teus dedos eram os pincéis, o
céu cobria-se de muitas cores, reflectindo imagens maravilhosas, tornando a
terra mais bela. Tu, sentado nas nuvens deliravas com o espectáculo que podias
ver; ver, e sobretudo, observar. O ar repleto de cheiros intensos e perfumados,
os campos todos iluminados, as flores caídas sobre as ervas que fragmentavam o
Sol em centelhas de carmim; os pássaros, esses cantavam canções de embalar, e
tu, ficavas nesse teu mundo imaginário, onde todas as imagens cruéis passavam a
ser puras e belas, onde a paz e a beleza casavam. O assalto aos teus sentidos,
despertava em ti algo vindo da infância, algo que te trazia: Alegria, Paz, Amor
e Segurança.
Maria Dias
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