quarta-feira, 29 de outubro de 2014


Deixa-me escutar o silêncio
Não te rias, não estou a brincar,
Ele murmura-me algo ao ouvido,
Algo importante que quero escutar.

Ele está repleto de sabedoria
Dá-me tolerância, sensatez e paz
Chega de incessante gritaria
Ouve o que de bom ele me traz

Sinto-o, mas não o sei explicar
O silêncio rodeia-me, aconchega-me
Embala-me e convida a ficar,
E num abraço apertado afaga-me

Porque fácil é trocar palavras
Difícil é o silêncio interpretar,
As mais lindas palavras são ditas
No profundo silêncio de um olhar!



Maria Dias

Este poema foi interpretado por Joana Tavares no "Boa Noite Silêncio"




O silêncio às vezes dói
Como se ninguém estivesse ali,
E o pior é que destrói,
O pior é que sinto que fugi…

Fugir das palavras naqueles momentos,
Que fazem falta, que são essenciais,
Nem que sejam simples lamentos,
Mas que se tornam cruciais

Cruciais para um entendimento,
Saltar a barreira, nem que seja por um triz,
Ultrapassar todo o sofrimento,
para tudo resolver, e se tentar viver feliz!




Maria Dias

No "Boa Noite Silêncio" mais um poema interpretado por João Borges Oliveira


Há dias em que as “palavras”
Não chegam para expressar
Os sentimentos,
Fica o silêncio….
Reflectido num olhar,
Sem ressentimentos,
Nada é preciso dizer,
Apenas sentir,
Transmitir,
Observar,
Não fugir,
Amar,
Ficar em comunhão,
O silêncio escutar,
Dar a mão
E sentir o coração!




Maria Dias

E foi assim mais um poema interpretado por João Borges Oliveira, no "Boa Noite Silêncio"



terça-feira, 28 de outubro de 2014


Sentada junto à porta, Carla não sabia o que fazer. Não sabia se devia entrar, ou se devia partir, naquele instante, só lhe restava ficar. E ali permanecia estática a pensar nele. A pensar no vazio do seu lugar. O vazio do aconchego, o vazio da ternura, o vazio do amor.
“Ai a falta que me fazes” suspirava ela. E eu sei que tu não querias partir, vi-o nos teus olhos, mas partiste! E ficou aquele lugar vazio, apenas cheio da saudade do teu calor. O teu calor que me embalava antes de adormecer. E agora como vou fazer? Sinto frio, um frio que dói, dói muito, e cá no fundo. Quem me vai sussurrar ao ouvido palavras ternas de embalar, quem me vai aquecer?”
E Carla ali estava, tendo como companhia, apenas o silêncio das palavras dele. O silêncio dos seus passos e o silêncio dos seus beijos.
“Como é que vou sobreviver? Naquele quarto só o silêncio permanece. Ele e eu. Receio enlouquecer com este silêncio que me envolve” - Continuava ela a pensar.

E ali permaneceu, sentada junto à porta, sem saber o que fazer!

Maria Dias




E foi assim mais um texto dito e encenado por Joana Tavares no "Boa Noite Silêncio" 



Nunca fui às Berlengas

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Aqui fica a minha página no Boletim da Arpic de Novembro 2014:

O CANTINHO DA POESIA, PENSAMENTOS,  CONTOS E OUTROS…..



Novembro é o mês do S.Martinho, por isso recordemos a Lenda de S.Martinho:

Martinho era um valente soldado romano, que estava a regressar de Itália para a sua terra, algures em França.

Montado no seu cavalo estava a passar num caminho para atravessar uma serra muito alta, os Alpes, e, lá no alto, fazia muito frio, vento e mau tempo.

Martinho estava agasalhado, tinha uma capa vermelha, que os soldados romanos normalmente usavam.







De repente, aparece-lhe um homem muito pobre, vestido de roupas velhas e rotas, cheio de frio e que lhe pediu esmola.

Infelizmente, Martinho não tinha nada para lhe dar. Então, pegou na espada, levantou-a e deu um golpe na sua capa. Cortou-a ao meio e deu metade ao pobre.

Nesse momento, de repente, as nuvens e o mau tempo desapareceram. Parecia que era Verão.

Foi como uma recompensa de Deus a Martinho por ele ter sido tão bom.


É por isso que todos os anos, nesta altura do ano, mesmo sendo Outono, durante cerca de alguns dias o tempo fica melhor e mais quente: é o chamado Verão de S.Martinho.















“Que o desejo de ajudar o próximo consiga sempre superar o egoísmo e falta de esperança no ser humano”











Maria Dias

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

"Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros. Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. 
Escrevo bem, silêncios, no plural.
Sim, porque não há um único silêncio.
E todo o silêncio é música em estado de gravidez."

Mia Couto

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

quarta-feira, 8 de outubro de 2014


Ela fechou os olhos, inclinou o rosto em direcção ao céu e deixou que a brisa marítima lhe fizesse cócegas nas pálpebras…gaivotas a conversar mais ao longe na praia, um insecto que passou junto ao seu ouvido, ondas suaves que batiam ritmadamente na praia. Foi avassalada por uma enorme sensação de serenidade ao fazer corresponder a respiração com o ritmo do mar. A chuva recente remexera a água salgada e o odor intenso misturava-se no vento.
Abriu os olhos e contemplou a paisagem com lentidão, achou maravilhoso, sentiu invadir-se por uma alegria imensa e pensou: “É isto o que os pássaros devem sentir quando voam por cima da praia”. Aquela alegria era como uma brisa suave. Um sentimento tão intenso e ao mesmo tempo tão simples.
Questionou-se sobre o porquê de complicarmos as coisas. Quis entender o porquê dos nossos olhos se gastarem no dia-a-dia, parecendo por vezes opacos, e quando isso acontece instala-se no nosso coração o monstro da indiferença.

Mas que ironia esta, a de tanto querermos e acabarmos por esquecer as coisas mais simples da vida, tão simples como a natureza, que se nos oferece simplesmente ao nosso olhar, para que dela desfrutemos e nos possamos sentir cheios de alegria por viver!

Maria Dias


Óleo s/Tela