quinta-feira, 31 de maio de 2018

Ser Criança



Deixa-me ser outra vez criança
dá-me  a inocência de volta
entrega-me de novo a esperança
deixa a minha alma à solta

Porque quero voar nas asas da imaginação
dá-me a vida, dá-me o mundo
enche-me de amor  o meu coração
para sentir o que há de mais profundo

Dá-me um futuro novo, um futuro de paz
deixa-me continuar a correr, a brincar
e de sonhos me quero vestir, a cor tanto faz
apenas quero ser feliz, deixa-me  sonhar




MD
2016





quarta-feira, 30 de maio de 2018

Era uma vez.... um rapaz chamado “Coração”


Toda a gente gostava daquele rapaz. Era tão querido -diziam uns, tão emotivo- diziam outros, mas que ele era um rapaz fraco, lá isso era, deixava-se levar com facilidade e disso todos concordavam.

Coração” era esse o seu nome, vivia uma vida simples, mas cheia de emoções. Não conseguia alhear-se das coisas, vivia-as com uma intensidade demasiado forte. Atraía sempre demasiados problemas, causando-lhe depois grandes sofrimentos.

Era um apaixonado por “Cabeça”, uma rapariga desenvolta e decidida. Ela sentia-se ligada a ele, mas de uma forma mais solta, nunca se sentia apaixonada, todavia não imaginava a vida sem ele.
Ela irritava-se muito por ele agir tão impulsivamente com tudo, já que ela não era nada assim. Ela conseguia pensar e decidir mais friamente como resolver os problemas.

Mas tinham admiração um pelo outro:
Ela invejava a capacidade que ele tinha de se deixar fascinar pelas pequenas subtilezas da natureza, pelas pequenas subtilezas das emoções, pelas pequenas subtilezas da vida.
Ele invejava a forma fria e concisa que ela tinha de encarar e ultrapassar os obstáculos constantes da vida.

Gozavam  momentos de um afeto fácil e de uma proximidade serena, que lhe recordavam constantemente que, embora diferentes, se completavam. E foi então que decidiram casar-se. Ela nunca na vida tinha virado uma página tão depressa, mas dessa vez deixou-se levar pelo Coração.

Todos achavam que não iria dar certo, por serem tão diferentes um do outro. E na verdade era mais o tempo em que pareciam o cão e o gato.

Ele sentia-se sempre em estado de paixão e amor, mas ela era tão racional e tão fria que não conseguia viver  esses sentimentos na sua plenitude.

Passados alguns anos tiverem uma filha a que deram o nome de “Razão”. Uma criança maravilhosa, que se tornou numa jovem sensata e determinada. Ela veio equilibrar a vida de ambos, proporcionando mais emoção à Cabeça e mais sensatez ao Coração.  
A Razão não entendia porque é que o pai se emocionava tanto com tudo:
- Oh Mãe, porque é que o pai chora quando está triste e também quando está alegre?
O pai emociona-se com facilidade, ele é mesmo assim – dizia-lhe a mãe: e nunca te podes esquecer disto:
“O teu pai é assim porque tem razões  que tu própria desconheces”


MD
2016






sexta-feira, 25 de maio de 2018

A confissão do cantor Pedro Barroso

Venho aqui pedir desculpa
de não ser evoluído,
apesar destas campanhas
na rádio, na televisão,
em toda a parte, insistindo
na urgência do assunto…
Eu não consigo gostar;
- não consigo mesmo, pronto.
Sei que pertence ser gay,
toda a gente deve ser.
Mas eu, lamentavelmente
não sou como toda a gente;
Como aconteceu.. não sei,
peço desculpa por isso,
mas confesso: sou… diferente.
Sei que vos pode ofender
esta minha enfermidade,
pois um gajo que assim pensa
hoje em dia, não tem nexo;
deveria ser banido,
expulso da comunidade.
É uma vergonha indecente
Gostar de mulher, ter filhos
Casar, afagar, perder-se
Com pessoa doutro sexo!
Uma nojeira repelente;
Dar-lhe, até, beijos na boca
em público! E declarar
Esta sua preferência
Que eu nem sei classificar!
Tenho uma vergonha louca
E desejo penitência
por tal desconformidade,
retardamento, machismo,
doença, fatalidade!
Já tentei tudo: - inscrevi-me
em saunas, aulas de dança
cursos de perfumaria
origami, greco romana,
ioga - para ter ousadia
boxe - p’ra ganhar confiança...
Mas quando chega o momento
De optar… sou… decadente,
Recorrente e insistente.
Opróbrio raro e demente,
Ver uma mulher seduz-me,
Faz-me vibrar, deslumbro.
Vê-la falar, elegante;
Vê-la deslizar, sensual
Como vestal, deslumbrante
Seu peito assim, saltitante
Sua graça embriagante
olho com gosto, caramba,
lamento ser tão ...normal.
Mas eu confesso que sinto
- neste corpo tão cansado
Que da vida já viu tanto...
Ainda sinto um desejo
Que m’ envergonha bastante
Por ser já tão deslocado
tão antigo, assim tão fora
do mais moderno critério.
Valia mais estar calado
Mas amigos, já agora
Assumo completamente:
- Tenho esse problema sério.
Nunca integrarei partidos
Onde não sou desejado.
No planeta das tais cores
não tenho dia aprazado,
nem bandeira, nem veado,
nem “orgulho” especial!
Sou mesmo do “outro lado”
dito “heterossexual”
e já me chateia um bocado
Ter que dizer, embaçado,
que me atrai o feminino
e sou apenas “normal”!
- e, portanto, avariado.
Mas… mesmo assim, - saudosista,
imensamente atrasado,
terrivelmente cercado,
conservador nesse ponto,
foleiro, desajustado...
perdoai-me tal pecado
- Não me sinto ...assim tão mal!


quarta-feira, 23 de maio de 2018



Ansiedade palavra ambígua
quer seja um sentimento mau ou bom
torna-se numa angustia contínua
porque quem muito espera
muito desespera...
dá tanta nervoseira
que acaba em canseira
é uma espera de verdade
essa louca ansiedade
e sem se saber como a ultrapassar
ficamos prostrados a pensar…



terça-feira, 22 de maio de 2018

Abraço-te



Abraço o mundo
esse mundo inteiro
que cabe no meu olhar
e, num sentimento profundo
sonho ...e até ouso voar...

Abraço as palavras
no oásis do meu silêncio
a vida  suspensa num sentir
preenche esse vazio
e, simplesmente deixo-me ir

e apenas...
as palavras rasgadas
em gritos contidos
me dão “tudo” dos nadas
e se transformam em
abraços unidos

Abraço o mundo




sexta-feira, 18 de maio de 2018

A humanidade não aprendeu nada com os erros do passado ....


“No decurso da minha vida assisti a incríveis progressos tecnológicos. Quando nasci não era comum ter-se automóvel, mas, quando cheguei aos 40 anos, o homem já havia pisado a lua. Descobrimos curas para doenças, construímos armas nucleares, representámos o nosso ADN, aprendemos a navegar na internet e desenvolvemos remédios e alimentos genéticamente modificados. Pelo menos no Ocidente, a maioria das pessoas tornou-se mais rica do que uma geração como a dos meus avós poderia ter imaginado.  Contudo,  em termos de humanidade, parece que milhares de anos de experiência não implicaram muitos progressos.”



Eva Schloss in “A rapariga de Auschwitz”


domingo, 6 de maio de 2018

Dia da mãe



Hoje precisava ter asas
Para subir ao céu e te abraçar
Nem que fosse só por um instante
Ao teu colo mãe queria voltar


06/Maio/2018




sexta-feira, 4 de maio de 2018

O bombeiro


A ti bombeiro
Que tens a garra e a coragem
de enfrentar o perigo e a morte
com uma bravura selvagem
muitas vezes escapas por sorte


A ti bombeiro
Que tens todo o direito
ao nosso reconhecimento
mereces todo o respeito
num profundo sentimento

A ti bombeiro
Forte e destemido
nem sempre lembrado
nem sempre agradecido
aqui deixo o meu obrigado



Maria Dias
04/Maio/2018



quarta-feira, 2 de maio de 2018

Em Maio chuva de flores


CHUVA DE FLORES

O ameno clima primaveril mudou nessa tarde...
as nuvens, que de manhã se tinham revelado
pequenos fiapos de algodão, dignos de um postal,
ecureceram,
os pássaros calaram-se e fugiram da época estival,
o ribombar premonitório de uma trovoada fez-se ouvir
o entardecer apareceu mais cedo, as nuvens essas
endoideceram,
e o céu começou a roncar e acabou a aplaudir

Ela queria fugir dali, queria fugir à tempestade
não teve tempo, a chuva começava a cair,
mas em vez de gotículas de água, na verdade
era uma chuva de pétalas de flores…
o ar repleto de cheiros intensos e perfumados
era um espectáculo de muitas cores,
e os campos estavam todos iluminados.
e de repente, um mundo imaginário…
as flores caídas sobre a erva fragmentavam
o Sol em centelhas de carmim,
a beleza e a paz se aliavam,
o assalto aos sentidos feito assim,
despertou nela algo vindo da infância
quando aquele cheiro lhe inspirava
alegria, amor, paz e segurança





Maria Dias
Maio 2012
publicado no Poemário  de 2015
(Pastelaria Studios, Multiplas Historias)
 

terça-feira, 1 de maio de 2018

Soneto de Maio

Suavemente Maio se insinua
Por entre os véus de Abril, o mês cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.

Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel
E em seu leito de plumas fica nua
A destilar seu luminoso mel.

Raia a aurora tão tímida e tão frágil
Que através do seu corpo transparente
Dir-se-ia poder-se ver o rosto

Carregado de inveja e de presságio
Dos irmãos Junho e Julho, friamente
Preparando as catástrofes de Agosto...




Vinicius de Moraes