terça-feira, 10 de janeiro de 2017

"Os dois sonetos de amor da Hora Triste". 
Foi o poema escolhido para marcar a cerimónia de despedida de Mário Soares. 

Poema carregado de simbolismo, declamado pela companheira de 66 anos de vida do antigo presidente da República, Maria Barroso, que faleceu a 7 de Julho de 2015.


Quando eu morrer - e hei de morrer primeiro
Do que tu - não deixes de fechar-me os olhos
Meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
E ver-te-ás de corpo inteiro.

Como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
Dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
Fecha-me os olhos com um beijo.

(Eu, Marco Póli)
Farei a nebulosa travessia
E o rastro da minha barca
Segui-los-á em pensamento.

Abarca
Nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
Ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus,


II
Não um adeus distante
Ou um adeus de quem não torna cá,
Nem espera tornar. Um adeus de até já,
Como a alguém que se espera a cada instante.

Que eu voltarei. Eu sei que hei de voltar
De novo para ti, no mesmo barco
Sem remos e sem velas, pelo charco
Azul do céu, cansado de lá estar.

E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores para fora,
Amor, que tu bem sabes que quem chora


Assim, mente. E, se quiseres partir e o coração
To peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino
Talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino?





domingo, 8 de janeiro de 2017



Poema de amor, escrito por MÁRIO SOARES a MARIA BARROSO, em 1962, quando se encontrava detido na prisão do Aljube.

Para ti
Meu amor
Levanto a voz

No silêncio
Desta solidão em que me encontro
Sei que gostas de ouvir
A minha voz
Feita de palavras ternas e doces
Que invento para ti
Nos momentos calmos
Em que estamos sós
Sei que me ouves
Agora…
… uma vez mais
Apesar da distância
E do silêncio
Opera esse milagre
Simples
Como tudo o que é natural