sábado, 31 de maio de 2014

E foi hoje o lançamento da colectânea "Cartas", na qual tive o privilégio de participar. Aqui partilho a minha carta:

“A Carta”

O seu olhar deslizou para o lado pousando no vidro frio do espelho, ela que raramente olhava para o espelho….mas naquele instante apercebeu-se que durante o tempo que decorrera e em que encontrara o seu eco, algo desaparecera. Levantou-se e aproximou-se mais do espelho. Avaliou-se. Sabia exactamente o que perdera. Este reflexo agora pertencia a uma adulta, uma mulher de meia idade, não restando espaço para a frescura de outrora…
Mas felizmente ainda sabia raciocinar. Ah mas aquele medo quase permanente que sentia, e se um dia até isso falhasse, se ficasse como sua mãe, como seria perder a sua identidade, nunca mais poderia ser independente ou até mesmo reconhecer o seu marido e filhos.
Sentiu inundar-se por uma onda de autocomiseração e as lágrimas vieram-lhe aos olhos.
Foi então quando decidiu concretizar aquela ideia já antiga de escrever uma carta que ficaria para que a lessem quando ela já nem se recordasse de quem era.
Era o que ela achava, uma carta sempre procura quem a leia, que, mais tarde ou mais cedo, quer se goste ou não, as palavras encontram uma forma de chegar à luz, de darem os seus segredos a conhecer.
Concentrou-se, começando a escrever, mas não, não era aquilo que queria dizer, rasgava o papel e iniciava outra, que diabo, como estava a ser difícil exprimir os seus sentimentos. Não sabendo bem que dizer, pois os seus pensamentos eram demasiado genéricos, mas possuindo para ela demasiado significado, e ao mesmo tempo nenhum, no entanto, ela queria transcrevê-los a todo o custo:

“Querido marido e queridos filhos
Escrevo esta carta enquanto a minha cabeça o permite. Hoje sei quem sou, sei que tenho um marido que amo e que me ama, e que tenho dois filhos. Uma filha e um filho, meus amores eternos.
Não sei se um dia perderei os sentidos, esquecendo o meu passado, por isso agora que ainda passeio pela minha memória intacta, não só quero contar a minha história, como ainda quero escrever esta carta para vos dizer que vos Amo e vos pedir perdão se um dia me esquecer dos vossos nomes ou até me esquecer quem vocês são.
Nesse dia, quando a sombra da noite cair como densa cortina no meu cérebro, já não serei eu que estarei cá, mas peço-vos que me abracem do mesmo modo, e que se lembrem que vos amarei eternamente!”

Largou a caneta por sentir a mão trémula, sentiu a boca tensa nos lados, como a de uma marioneta de madeira, olhou de novo no espelho, tentando perceber a dimensão da sua perturbação.
Foi-se deitar e tentou dormir. Estava cansada. Cores, sons, formas, tudo indistinto à sua volta, mas o sono escapava-se-lhe… imagens e pensamentos passavam como um flecha pelo cérebro, uma corrente interminável de sensações… e pensou no abraço dos seus amores, aquele abraço que vale mais que mil palavras, abraço esse que a embalou num sono profundo.

Maria Dias

sexta-feira, 30 de maio de 2014

O meu contributo para o Jornal da Arpic do mês de Junho:

O CANTINHO DA POESIA, PENSAMENTOS,  CONTOS E OUTROS…..

Junho é para mim um mês muito importante, pois no dia 1 de Junho fui mãe pela primeira vez. Aqui fica um poema dedicado à minha filha, um dos amores da minha vida.




Não há palavras para descrever
O que de maravilhoso senti
Quando pela primeira vez te vi,
Quando me deste a conhecer
O significado da palavra “Mãe…
É um sentimento que se tem,
E que não se consegue explicar
Soube logo que te ía amar!
As saudades que eu tenho
Daquela menina linda…
Depois foste crescendo,
E adolescente ainda,
Já nos íamos apercebendo
Da personalidade forte
Da tua determinação
Sempre guiada pela razão!
De menina a adolescente,
Tornaste-te numa linda mulher,
E hoje só te quero dizer…
Que o meu amor por ti é profundo
Que te admiro demais
E que daria a minha vida
Para te ver feliz neste mundo!

No dia 31 de Maio foi lançado o livro Colectânea “Cartas” – Editora Lua de Marfim, no qual tive o privilégio de participar com uma carta que vou partilhar convosco:

O seu olhar deslizou para o lado pousando no vidro frio do espelho, ela que raramente olhava para o espelho….mas naquele instante apercebeu-se que durante o tempo que decorrera e em que encontrara o seu eco, algo desaparecera. Levantou-se e aproximou-se mais do espelho. Avaliou-se. Sabia exactamente o que perdera. Este reflexo agora pertencia a uma adulta, uma mulher de meia-idade, não restando espaço para a frescura de outrora…
Mas felizmente ainda sabia raciocinar. Ah mas aquele medo quase permanente que sentia, e se um dia até isso falhasse, se ficasse como sua mãe, como seria perder a sua identidade, nunca mais poderia ser independente ou até mesmo reconhecer o seu marido e filhos.
Sentiu inundar-se por uma onda de autocomiseração e as lágrimas vieram-lhe aos olhos.
Foi então quando decidiu concretizar aquela ideia já antiga de escrever uma carta que ficaria para que a lessem quando ela já nem se recordasse de quem era.
Era o que ela achava, uma carta sempre procura quem a leia, que, mais tarde ou mais cedo, quer se goste ou não, as palavras encontram uma forma de chegar à luz, de darem os seus segredos a conhecer.
Concentrou-se, começando a escrever, mas não, não era aquilo que queria dizer, rasgava o papel e iniciava outra, que diabo, como estava a ser difícil exprimir os seus sentimentos. Não sabendo bem que dizer, pois os seus pensamentos eram demasiado genéricos, mas possuindo para ela demasiado significado, e ao mesmo tempo nenhum, no entanto, ela queria transcrevê-los a todo o custo:
“Querido marido e queridos filhos
Escrevo esta carta enquanto a minha cabeça o permite. Hoje sei quem sou, sei que tenho um marido que amo e que me ama, e que tenho dois filhos. Uma filha e um filho, meus amores eternos.
Não sei se um dia perderei os sentidos, esquecendo o meu passado, por isso agora que ainda passeio pela minha memória intacta, não só quero contar a minha história, como ainda quero escrever esta carta para vos dizer que vos Amo e vos pedir perdão se um dia me esquecer dos vossos nomes ou até me esquecer quem vocês são.
Nesse dia, quando a sombra da noite cair como densa cortina no meu cérebro, já não serei eu que estarei cá, mas peço-vos que me abracem do mesmo modo, e que se lembrem que vos amarei eternamente!”

Largou a caneta por sentir a mão trémula, sentiu a boca tensa nos lados, como a de uma marioneta de madeira, olhou de novo no espelho, tentando perceber a dimensão da sua perturbação.
Foi-se deitar e tentou dormir. Estava cansada. Cores, sons, formas, tudo indistinto à sua volta, mas o sono escapava-se-lhe… imagens e pensamentos passavam como um flecha pelo cérebro, uma corrente interminável de sensações… e pensou no abraço dos seus amores, aquele abraço que vale mais que mil palavras, abraço esse que a embalou num sono profundo.


Maria Dias
E este foi o meu contributo do mês de Maio:

O CANTINHO DA POESIA, PENSAMENTOS, CONTOS E OUTROS…..

Neste mês de Maio

Gostaria de partilhar convosco o texto que foi publicado na Antologia de Poesia e Prosa
“No Mundo da Lua”                                                       


A frase que mais ouço é esta: “Andas sempre com a cabeça no mundo da Lua”. Quero lá saber do que dizem. Nunca me iriam compreender.  O que os outros não sabem, é que quando viajo até ao mundo da lua, sonho muito de olhos abertos, viajo muito, mas as minhas viagens não são as mais comuns. Viajo para dentro de mim mesma, viajo no tempo.
Quando eu estou “no mundo da Lua”, fico no silêncio, fecho os olhos e aí estou pronta para partir.
Vou de viagem, uma viagem especial, uma viagem ao passado. Uma viagem que dura o tempo que eu quiser. Deixo o meu pensamento divagar por entre as recordações, até aos lugares mais recônditos da minha memória.
O vagar chega-me a cada lembrança, sinto o início de um sorriso. É um assalto aos meus sentidos, que desperta em mim momentos da minha infância. Até nem precisava de fechar os olhos para ver tudo, para receber aquele tempo, já sinto os cheiros, avanço devagar como se fosse o presente, o presente absoluto, com a idade daquele instante, como se estivesse lá. Então, estou pronta para reviver o momento, descanso os olhos no que me rodeia.
Vejo a minha avó na cozinha, mulher pequenina, mas sempre cheia de energia, ostentando aquele ar de luminosa serenidade. Está de volta dos cozinhados e aí sinto aquele cheirinho tão bom da sua comida: “Oh vó o que é o jantar? Por mim, podes fazer todos os dias o teu frango assado, ou o teu arroz de bacalhau”. Hummm até sinto o paladar dos seus cozinhados….
Todas estas sensações aliam-se ao aroma do café acabado de fazer, levando a que naquele instante a vida até pareça simples.
O cheiro da erva aquecida pelo Sol, entra pela casa e enche o ar. São estes os cheiros que me transmitem paz e segurança.
Pela tarde, da janela observo a avó no jardim, falando com as plantas, e penso na beleza que é, ela deixar-se fascinar pelas coisas mais simples da vida. Vejo-a sorrir, um sorriso rasgado que demonstra felicidade.
Ah mas agora fico ansiosa pelos serões. Esses momentos tão intensos passados à volta daquela mesa com a “braseira”…..as histórias da avó, cheias de mistério, lendas de encantar que fazem a minha cabecinha sonhar… e só quando os olhos já não querem continuar abertos eu cedo a ir para a cama.
A magia daqueles momentos trazem-me memórias tão ternas, tão intensas, como se estivesse lá neste momento, com a mesma idade, com os mesmos sentimentos, e o melhor de tudo, é a sensação tão real de estar com a minha avó ao meu lado.
Mesmo que as palavras se misturem e atirem ao ar o livro da vida e as páginas se baralhem, jamais podendo voltar a ser ordenadas de modo a contar a mesma história, tenho memórias vividas, que me fazem feliz.
Então estou pronta, matei a saudade e levo em mim aquilo que sou. Posso regressar dessa viagem, ainda com aquela criança em mim. Sabem, o passado, os laços da família constituem aquilo que somos. Todas as pessoas são moldadas por elementos que não se podem controlar, traços herdados, traços aprendidos.
E chego à conclusão que, por vezes, é tão irresistível, ter a cabeça “no mundo da lua”.






Maria Dias

sábado, 24 de maio de 2014

"Que haverá com a lua que sempre que a gente a olha é com o súbito espanto da primeira vez?"
Mario Quintana

Óleo s/Tela

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Dizem que no dia 22 de Maio se comemora o dia do abraço.
 Mas um abraço não tem dias, não tem horas, tem momentos!


Quando eu estiver triste,
abraça-me simplesmente….
Sei que não fugiste,
E ficarei mais contente.

Não vais levar a minha tristeza
Mas vais dar-me a tua alegria,
Vais ajudar-me com certeza,
Hoje é assim, amanhã, será outro dia.



Maria Dias

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva 
Não faz ruído senão com sossego. 
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva 
Do que não sabe, o sentimento é cego. 
Chove. Meu ser (quem sou) renego... 

Tão calma é a chuva que se solta no ar 
(Nem parece de nuvens) que parece 
Que não é chuva, mas um sussurrar 
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece. 
Chove. Nada apetece... 

Não paira vento, não há céu que eu sinta. 
Chove longínqua e indistintamente, 
Como uma coisa certa que nos minta, 
Como um grande desejo que nos mente. 
Chove. Nada em mim sente... 

Fernando Pessoa

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A família é a base da sociedade,
Que nos transmite de verdade
Paz e harmonia, a verdadeira riqueza,
A união e o amor, que nos dá a certeza
De nos sentirmos acolhidos,
Amados,
Acarinhados,
De nos sentirmos unidos!


Maria Dias

Julho 2012

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Oswaldo Montenegro - Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também

sábado, 3 de maio de 2014

Pedro Abrunhosa - "Para os Braços da Minha Mãe"

Pedro Abrunhosa - "Para os Braços da Minha Mãe"

Mãe
O passado vai-se apagando

Não sei se ocorrerá comigo
Um dia perder os sentidos,
Como se passa contigo,
Que já esqueces os tempos idos…..
Por isso,  passeio por minha memória,
ainda intacta,
E antes que ela se apague,
Quero escrever  a minha história.

Se tu te esqueceres do meu nome
Não me zango contigo, e vou-me lembrar
De ter paciência, dar-te apenas carinho
Tu não tens culpa da mente se apagar.

Fizestes amigos nessa vida corrida
Guardaste lembranças num arquivo,
E hoje…esse arquivo  contaminado
Perde detalhes de uma vida vivida,
Impossiveis de recuperar
Fazendo esquecer todo um passado.

Eu sei que jamais recuperarás a tua auto-estima,
A sombra da noite vai cair como densa cortina
Cegará não apenas a tua visão…
Levará muito mais: A nossa doce ilusão.

Não terás controle sobre teus pensamentos,
Agora eu sei que será um tormento….
Não reterás por mais que breves segundos…
E mergulharás no esquecimento.

Quando tudo isso acontecer já terás partido
Recordarei por ti, e de ti não me vou esquecer
Pois essa mulher que em tempos dizia
Eu amo-te,
Partirá deste mundo sem saber.

E quando esse dia chegar…
Quando tu me perguntares
Quem és tu?
Eu apenas vou sorrir
E te vou abraçar,
Porque tu és minha mãe,
E mesmo que te esqueças,
Eu  sempre te vou amar!


Maria Dias
2012

Dedico a todas as mães:

MÃE

MULHER
AMIGA
ELO DE LIGAÇÃO

MULHER
AMOR
ENTREGA  e ESPERANÇA

Mãe
Ama com fervor
Ama com paixão
Ama mesmo com dor
Abre sempre o coração


Mãe é aquela que ama
Como se nunca a tivessem magoado,
Mãe dá sem nada esperar…
Mesmo com o coração destroçado
Ela é capaz de continuar a amar

Até no silêncio é capaz de ouvir
O seu amor é verdadeiro,
Mãe, toda ela é sentir
Ela só sabe Amar por inteiro!


Maria Dias
Maio 2014




 “Se, por um instante, Deus se
esquecesse de que sou uma marionete
de trapo e me presenteasse com um
pedaço de vida, possivelmente não diria
tudo o que penso, mas, certamente pensaria tudo o que digo.

Daria valor às coisas, não pelo o que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que
a cada minuto que fechamos os olhos,
perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os demais parassem,
acordaria quando os outros dormem.
Escutaria quando os outros falassem
e gozaria um bom sorvete de chocolate.
Se De
us me presenteasse com um pedaço
de vida vestiria simplesmente, me
jogaria de bruços no solo, deixando
a descoberto não apenas meu corpo,como minha alma.
Deus meu, se eu tivesse um coração,
escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saisse.
Pintaria com um sonho de Van Gogh
sobre estrelas um poema de Mário Benedetti
e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua.
Regaria as rosas com minhas lágrimas
para sentir a dor dos espinhos e o
encarnado beijo de suas pétalas.
Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida!…
Não deixaria passar um só dia sem
dizer às gentes- te amo, te amo.
Convenceria cada mulher e cada homem
que são os meus favoritos e viveria enamorado do amor.
Aos homens, lhes provaria como estão
enganados ao pensar que deixam de se
apaixonar quando envelhecem, sem saber
que envelhecem quando deixam de se apaixonar.
A uma criança, lhe daria asas, mas
deixaria que aprendesse a voar sozinha.
Aos velhos ensinaria que a morte não
chega com a velhice, mas com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês,os homens…
Aprendi que todo mundo quer viver no
cimo da montanha, sem saber que a
verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa.
Aprendi que quando um recém-nascido
aperta com sua pequena mão pela
primeira vez o dedo do pai, o tem prisioneiro para sempre.

Aprendi que um homem só tem o direito
de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender
com vocês, mas,finalmente não poderão
servir muito porque quando me olharem
dentro dessa maleta, infelizmente estarei morrendo”

GABRIEL GARCIA MARQUEZ