quarta-feira, 31 de julho de 2019


Demora-te em mim o tempo que quiseres
e nas asas da paixão e ternura plena
ficam os momentos de afecto fácil
os momentos de proximidade serena
as palavras que levares e trouxeres
numa expressão tão irresistível

Demora-te em mim o tempo que quiseres
fica ao meu lado a sentir o silêncio
o tempo de assaltares os meus sentidos
dá-me tudo o que trouxeres
afasta os pensamentos racionais
esses que estão a mais
restam  os momentos vividos

Demoro-me em ti o tempo que eu quiser
o tempo de te escrever até ao fim
o tempo de guardar os teus traços
demoro-me ... porque sim
para adormecer nos teus braços
Perde-te para sempre em mim


MD
2016




segunda-feira, 29 de julho de 2019

A vida num ápice




Ainda agora nasceu
daqui a nada já gatinha
daqui a nada já caminha
daqui a nada já cresceu

Ainda agora é segunda-feira
daqui a nada é fim de semana
daqui a nada é outra semana
daqui a nada é fim do mês
daqui a nada é outro mês
daqui a nada é fim do ano
daqui a nada é outro ano

Ainda agora nasceu
e já quase tudo viveu
daqui a nada já morreu!




MD
2016




sexta-feira, 26 de julho de 2019

Hoje dia dos avós, recordo o poema da tua chegada


estive grávida de esperança
vestida do sonho de ser avó
 ver a minha filha com uma criança
de sentir esse amor  e não só

nasceste e foi uma felicidade
ter-te nos meus braços
amor vivido com intensidade
mimos doces entre regaços

é o milagre da vida e do amor
é um doce e único momento
poder partilhar  alegria e a dor
perpetuar tão feliz acontecimento


11. Junho 2018




quinta-feira, 25 de julho de 2019

Cumplicidade


O meu nome é Cumplicidade, um bocado estranho não acham? Sei lá porque me chamaram assim. Só sei que todos gostam de mim e eu gosto de toda a gente, mas de quem eu mais gosto é do meu Amor.

Naquele dia estava eu muito bem sentada, à espera que o Amor chegasse. E já desesperava de tanto esperar, mas porque tardaria ele? O melhor mesmo era escutar aquela canção e lá me deixei embalar….. lá la lá….”o Amor”,  as palavras da canção explodem-me na cabeça…. sei lá o que querem dizer …será que conhecem o meu Amor? Mas depois falam em afeição, amizade, carinho, fraternidade e depois dizem que tudo se resume ao Amor. Então mas conhecem o meu Amor? Assim a gritarem bem alto o seu nome. Estranho…  o meu Amor assim tão conhecido.

E eis que ele chega, apressado, e ostentando aquele ar de luminosa serenidade me beija afectuosamente como só ele sabe fazer. Não interessava saber porque tinha tardado, interessava sim que estava agora a meu lado, proporcionando momentos de uma proximidade serena, e ele dizia-me baixinho: só contigo “Cumplicidade” sinto esta paz e harmonia.

O Amor e a Cumplicidade são felizes, e são felizes para sempre como nos livros, enquanto os dois viverem lado a lado.


MD
2012






terça-feira, 23 de julho de 2019

A sombra


Eu e a minha sombra
sempre fomos almas gémeas
para onde vou, vai ela também
O que sou, ela é, o que tenho, ela tem
ela revela o meu ego mais sombrio
ela faz-me medo porque, se aparece,
ameaça a minha imagem aceitável
me aflige e até me endoidece
mas não posso livrar-me dela
do meu Eu é parte indissociável



MD
2012






sábado, 20 de julho de 2019

A amizade


Pudera eu ter o dom de um poeta
ou de um músico…
para poder colocar em verso e melodia
o sentimento da amizade…
Como eu gostava, como eu queria
poder defini-lo e transcrevê-lo
esse sentimento da verdade

A amizade é um sentimento
tão único e especial,
troca, amor, cumplicidade
é afeto, é respeito, é vital,
é carinho e honestidade

A amizade duplica a alegria
e divide as tristezas,
é uma completa melodia
que diminui as distâncias
fortalece as certezas
e ultrapassa todas as ânsias…

A amizade, sim, a amizade
é uma troca repartida
de uma cumplicidade,
é a doce canção da vida
é a poesia da eternidade!



quarta-feira, 17 de julho de 2019

Humor erudito

O Bocage também sabia ter um sentido de humor mais erudito:

-Conta-se que Bocage, ao chegar a casa um certo dia, ouviu um barulho estranho vindo do quintal.
Chegando lá, constatou que um ladrão tentava levar os seus patos de criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com os seus amados patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não te interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa.
Se fazes isso por necessidade, transijo… mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com a minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
-Doutor, afinal levo ou deixo os patos? 😁😁




domingo, 14 de julho de 2019

O sonho e a vida





O sonho, a manta que cobre
os pensamentos humanos,
feita de retalhos bem coloridos
forma a vida em todos os sentidos,
e, mesmo quando  se descobre
que está repleto de enganos,
a vida,  não passa sem o sonho,
caminham juntos, lado a lado
para que o futuro seja risonho,
a vida e o sonho, seu aliado



MD
2012





sexta-feira, 12 de julho de 2019

Os "Baixinhos" no supermercado


  

Nas compras, nós os baixinhos, às vezes, também sofremos um pouco.

Naquele dia até tinha pressa e de compras quase feitas, passei ao corredor dos artigos de limpeza.  Entre pensamentos: - porque vim ao hiper, enorme para comprar poucas coisas, ando kilómetros entre corredores, em busca do pretendido, bom, mas como sei onde está o que preciso, vai ser mais rápido.

Rápido, rápido foi apenas uma maneira de dizer, ou melhor de pensar, porque ao encontrar o artigo desejado, reparo que está muito acima da minha cabeça e ainda por cima muito “enterrado” lá para o fundo da prateleira -que azar o meu- olho à minha volta a ver se está algum empregado para me ajudar, mas nada, penso em pedir ajuda a alguém, mas o corredor está vazio; ora se está vazio, ninguém me vê e  aproveito para me empoleirar numa prateleira e zás calculo que ja lá chego...... pois é, chegar eu até chego, mas como o raio do artigo está enfiado lá para o fundo, ainda não o consigo alcançar, e agora?

Agora estou pendurada na prateleira e os artigos nas prateleiras de baixo a escorregarem para o chão.... e se o corredor estava vazio, com o barulho começam a aparecer pessoas e eu com o susto escorrego mesmo, e só não bato com o nariz no chão, porque me sinto agarrada por alguém ....

No final só me resta mesmo rir da minha figura, sim porque os baixinhos também podem ter sentido de humor para se rirem deles próprios ....  




In “A Saga dos Baixinhos”


M D
2019









"A infância não é um tempo, não é uma idade, uma colecção de memórias. A infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar. Quase tudo se adquire nesse tempo em que aprendemos o próprio sentimento do Tempo."


Mia Couto




terça-feira, 9 de julho de 2019

Saudade é....


Saudade é amor que permanece
é aperto e às vezes até dor
é querer ter o que não se esquece
é o que fica em nós do amor

Saudade não tem cor nem tamanho
é um vazio onde só cabe a lembrança
é um sentimento tão estranho
o seu maior conforto é a esperança

É a luz que ilumina a estrada do passado
eternizando a presença de quem já partiu
é carinho e amor a ser lembrado
a recordar uma vida que já existiu

A casa da saudade chama-se Memória
é uma cabana singela na rua do coração
mas nela cabe toda a nossa história
nem pensar em perdê-la, isso é que não



 In "Abraço-te"


M D
Fevereiro 2015






Saudade




O céu abriu-se e martelou a terra, bombardeando um tapete de poças silenciosas, como a memória bombardeia mentes silenciosas. A erva parecia satisfeita no seu verde húmido. A chuva começou a bater nas vidraças e o vento a assobiar com ritmo. Ela permaneceu sentada a olhar o vazio, as lágrimas embaciavam-lhe os óculos e tremiam-lhe no queixo como gotas de chuva no beiral. Aquela dor doía-lhe bem fundo. O rosto parecia pedra, mas as lágrimas continuavam a rolar pelas faces rígidas. O seu coração transbordava de “saudade”, uma saudade sem resposta e por isso se transformava num pequeno rio a brotar dos seus olhos.

De súbito, bateram à porta e ela ficou alguns segundos sem se mexer, sentia-se tão rígida que nem sabia se era capaz de se levantar. Voltaram a bater e então ela deu um salto e arrastou-se finalmente.

Com uma carta na mão, tremia dos pés à cabeça, hesitante entre abri-la ou se sentar primeiro. E assim demorou mais uns minutos, trémula de hesitação, amedrontada pela expectativa do seu conteúdo. Sentou-se primeiro, acomodou-se, ajeitou os óculos, suspirou ….Entretanto a chuva parou, o vento amainou e os olhos dela secaram, na esperança de voltarem a sorrir.

Aquela carta, já aberta, tremia-lhe nas mãos, tanto que, nem conseguia ler direito e só quando os seus olhos pararam naquela linha mais curta que as restantes, naquelas duas pequenas palavras, ela conseguiu continuar a ler.

Lá fora a chuva tinha parado e até o Sol voltava a espreitar de encontro à janela. O seu rosto já não estava rígido, porque dos seus lábios surgia agora um sorriso; já conseguia ler tudo, mas o seu olhar ficava parado e deliciado apenas naquelas palavras mágicas: Amo-te mãe!



In "Abraço-te" 

Maria Dias
Maio 2012





segunda-feira, 8 de julho de 2019

Os baixinhos chegam onde chegam os grandes, será mesmo assim?


Sou baixinha pois sou e então? Os meus pais perderam muito tempo com alguns detalhes e a pôr tudo no lugar e depois esqueceram-se de acrescentar o fermento. Só pode ter sido isso.

Quando somos mais novas não tem importância, sempre a ouvir: ah e tal  é mesmo uma boneca, tão gira.... depois,  o tempo passa e esses comentários escasseiam, até desaparecerem por completo..... 

Mas os baixinhos chegam  sempre onde chegam os grandes;  sim claro, se tiverem um banquinho por perto, senão estão tramados..... 

Ah pois é, estão mesmo tramados, se vão a um concerto ou a qualquer espectáculo, ou ficam na frente ou então passam o tempo todo aos saltinhos ou a pôr a cabeça ora para a esquerda, ora para a direita, num desassossego enervante, que provoca comichões e até chegam a pensar “mais valia ter ficado em casa”

Se engordam mais um pouco, ficam umas bolas, se ficam muito magros,  são uns enfezados; -não que me possa queixar porque estou entre os dois -, mas sempre a pensar, se um dia engordo muito, lá viro eu uma bolinha, se fosse alta talvez ficasse um mulherão.

Se um homem alto anda com uma mulher baixa, até que disfarça, mas se for ao contrário lá vêm as piadas, algumas até grosseiras....

Bom o facto é que os homens não se medem aos palmos, medem-se em centímetros e as mulheres arranjam alguns  extras nos saltos, agora os homens ficam mesmo em desvantagem.


Mas não me importo, porque, tal como dizia o poeta Fernando Pessoa, eu “sou do tamanho do que vejo”.....





In "A Saga dos Baixinhos"


M D
Junho 2017



sábado, 6 de julho de 2019

Sou pequena



Sou pequena pois sou...
e,  às vezes sinto-me tão pequenina
perante a imensidão do mar
perante o deslumbramento da natureza,
outras vezes,  sinto-me grande
do tamanho daquilo que vejo
do tamanho do mundo
como se pudesse abraçá-lo
e de todo alcançá-lo...







quinta-feira, 4 de julho de 2019

Um dia...serei estrela


Um dia ....
serei estrela na vida de alguém
tal como uma estrela errante
a observar a terra lá do além
mas muito  mais brilhante

Um dia....
a minha luz e o meu brilho
reflectirá a minha ausência
e seguindo o vosso trilho
sentirão a minha presença

Um dia
iluminarei os vossos caminhos
sendo a vossa companhia
vos darei os meus carinhos
transmitindo sempre alegria



MD
Jul 2019



quarta-feira, 3 de julho de 2019

Lágrima de Preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

ANTÓNIO GEDEÃO, in LÁGRIMA DE PRETA
(A Voz de Moçambique, 1964)