quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Solidão a dois

Sobre uma geração que insiste em não ouvir, em não falar e em não aprender

Com sorrisos cada vez mais raros e sem poder de contagiar; com impaciência ao invés de brincadeiras e um torturante silêncio onde deveriam existir palavras e palavras, cada vez mais pessoas vivenciam a solidão a dois, termo que ouvi pela primeira vez na voz de Cazuza, em “Eu queria ter uma bomba”, música do Barão Vermelho.
São olhares vazios, pensamentos dispersos e uma sensação enorme de “tanto faz”. Na mesa do restaurante, o casal insiste em prestar atenção exclusivamente às telas de seus celulares; enquanto caminham, nenhuma palavra sai de seus lábios, e na despedida um beijo frio. No sexo, por não exigir diálogo, as coisas fluem um pouco melhor. Mas ainda assim é insuficiente.
O relacionamento, contudo, é mantido. Talvez por conveniência ou talvez porque essa realidade basta. Existem pessoas que se contentam com o básico e outras que temem a solidão mais do que qualquer outra coisa. Elas não percebem, porém, que estão sozinhas, apesar de terem uma companhia.
Parece contraditório, mas não é. Soa como se as pessoas, com medo da solidão, resolvessem ficar sozinhas juntas. Assim é formada uma multidão de almas vazias, de corações partidos e mentes desencontradas.
Elas se sentem perdidas da mesma forma. Estão a sós com seus pensamentos, embora segurem uma mão. Sonham acordadas, mas preferem não falar sobre isso. Passam horas tentando saber porque aquelas pessoas malucas escrevem poemas e canções.
Ficam inconformadas por aqueles que dizem que até o céu muda de cor quando estão amando. "Porra, o céu é azul. Sempre foi e sempre será", concluem. Mas é mentira. O céu é da cor que querem aqueles que não sentem uma solidão esmagadora, estejam acompanhados ou não.
E assim assistimos relacionamentos começando e terminando dia após dia. Não haveria problema nenhum nisso, afinal, nossa existência é efémera, e somos feitos de dúvidas e erros. O problema é assistir o seu relacionamento começar e acabar e ainda assim não aprender nada de valioso com ele. E sabe por que não? Porque vocês não estavam juntos. Apenas estavam sozinhos no mesmo lugar.

Bruno Inácio




terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Gandhi

Em 30 de Janeiro de 1948, Mahatma Gandhi foi assassinado por um hinduísta fanático.


segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Espiritualidade

Espiritualidade não é religião

é um encontro marcado

com o que temos mais dentro de nós

e insistimos em faltar a esse encontro

pelos sentimentos em confusão



Espiritualidade é um enorme vazio

deste tempo e deste colectivo

foge como a água que corre num rio

muitas vezes sem parar

ignorando o nosso lado emotivo

e fingindo tudo ignorar



Quando procuramos sentir a perfeição

mesmo sabendo que ela não existe

procuramos esse elo perdido

no fundo do nosso eu, do nosso coração

como se alguma vez o tivessemos tido



2012





quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

"Sabe o que eu quero de verdade?! Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma. Porque sem ela não poderia sentir a mim mesma..." 

Clarice Lispector




terça-feira, 23 de janeiro de 2018

A triste geração que virou escrava


E a juventude vai escoando entre os dedos.

Era uma vez uma geração que se achava muito livre.

Tinha pena dos avós, que casaram cedo e nunca viajaram para a Europa.

Tinha pena dos pais, que tiveram que camelar em empreguinhos ingratos e suar muitas camisas para pagar o aluguer, a escola e as viagens em família para pousadas no interior.

Tinha pena de todos os que não falavam inglês fluentemente.

Era uma vez uma geração que crescia quase bilíngue. Depois vinham noções de francês, italiano, espanhol, alemão, mandarim.

Frequentou as melhores escolas.

Entrou nas melhores faculdades.

Passou no processo selectivo dos melhores estágios.

Foram efectivados. Ficaram orgulhosos, com razão.

E veio pós, especialização, mestrado, MBA. Os diplomas foram subindo pelas paredes.


Era uma vez uma geração que aos 20 ganhava o que não precisava. Aos 25 ganhava o que os pais ganharam aos 45. Aos 30 ganhava o que os pais ganharam durante a vida toda. Aos 35 ganhava o que os pais nunca sonharam ganhar.

Ninguém os podia deter. A experiência crescia diariamente, a carreira era meteórica, a conta bancária estava cada dia mais bonita.

O problema era que o auge estava cada vez mais longe. A meta estava cada vez mais distante. Algo como o burro que persegue a cenoura ou o cão que corre atrás do próprio rabo.

O problema era uma nebulosa na qual já não se podia distinguir o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o que era ambição, o que era ganância, o que era necessário e o que era vício.


O dinheiro que estava na conta dava para muitas viagens. Dava para visitar aquele amigo querido que estava em Barcelona. Dava para realizar o sonho de conhecer a Tailândia. Dava para voar bem alto.

Mas, sabe como é? Prioridades. Acabavam sempre ficando ao invés de sempre ir.

Essa geração tentava convencer-se de que podia comprar saúde em caixinhas. 

Chegava a acreditar que uma hora de corrida podia mesmo compensar todo o dano que fazia diariamente ao próprio corpo.

Aos 20: ibuprofeno. Aos 25: omeprazol. Aos 30: rivotril. Aos 35: stent.

Uma estranha geração que tomava café para ficar acordada e comprimidos para dormir.

Oscilavam entre o sim e o não. Você dá conta? Sim. Cumpre o prazo? Sim. Chega mais cedo? Sim. Sai mais tarde? Sim. Quer destacar-se na equipa? Sim.

Mas para a vida, costumava ser não:
Aos 20 eles não conseguiram estudar para as provas da faculdade porque o estágio demandava muito.

Aos 25 eles não foram morar fora porque havia uma perspectiva muito boa de promoção na empresa.

Aos 30 eles não foram ao aniversário de um velho amigo porque ficaram até às 2 da manhã no escritório.~

Aos 35 eles não viram o filho andar pela primeira vez. Quando chegavam, ele já tinha dormido, quando saíam ele não tinha acordado.

Às vezes, choravam no carro e, descuidadamente começavam a perguntar-se se a vida dos pais e dos avós tinha sido mesmo tão ruim como parecia.

Por um instante, chegavam a pensar que talvez uma casinha pequena, um carro popular dividido entre o casal e férias num hotel fazenda pudessem fazer algum sentido.

Mas não dava mais tempo. Já eram escravos do câmbio automático, do vinho francês, dos resorts, das imagens, das expectativas da empresa, dos olhares curiosos dos “amigos”.

Era uma vez uma geração que se achava muito livre. Afinal tinha conhecimento, tinha poder, tinha os melhores cargos, tinha dinheiro.

Só não tinha controle do próprio tempo.

Só não via que os dias estavam passando.

Só não percebia que a juventude se estava escoando entre os dedos e que os bónus do final do ano não comprariam os anos de volta.


Texto de Mia Couto





domingo, 21 de janeiro de 2018

Cântico Negro de José Régio (interpretado por João Villaret)







A 21 de Janeiro de 1961 morre João Villaret tinha 47 anos
Dotado de vários talentos, é sobretudo recordado pelos portugueses pela sua vertente de declamador. João Villaret declamava poemas como ninguém

sábado, 20 de janeiro de 2018

"Inteligente é quem sabe a hora de parar de dar corda para algo que não tem futuro."
(Fred Elboni)

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Eugénio de Andrade nasceu a 19 de Janeiro de 1923

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, 
e o que nos ficou não chega 
para afastar o frio de quatro paredes. 
Gastámos tudo menos o silêncio. 
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, 
gastámos as mãos à força de as apertarmos, 
gastámos o relógio e as pedras das esquinas 
em esperas inúteis. 

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. 
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; 
era como se todas as coisas fossem minhas: 
quanto mais te dava mais tinha para te dar. 

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. 
E eu acreditava. 
Acreditava, 
porque ao teu lado 
todas as coisas eram possíveis. 

Mas isso era no tempo dos segredos, 
era no tempo em que o teu corpo era um aquário, 
era no tempo em que os meus olhos 
eram realmente peixes verdes. 
Hoje são apenas os meus olhos. 
É pouco, mas é verdade, 
uns olhos como todos os outros. 

Já gastámos as palavras. 
Quando agora digo: meu amor
já se não passa absolutamente nada. 
E no entanto, antes das palavras gastas, 
tenho a certeza 
que todas as coisas estremeciam 
só de murmurar o teu nome 
no silêncio do meu coração. 

Não temos já nada para dar. 
Dentro de ti 
não há nada que me peça água. 
O passado é inútil como um trapo. 
E já te disse: as palavras estão gastas. 

Adeus. 

Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa” 


Ary dos Santos

(07.12.1937 - 18.01.1984 / 34 anos passados s/ sua morte)
O Poema Original

Original é o poeta 
que se origina a si mesmo 
que numa sílaba é seta 
noutra pasmo ou cataclismo 
o que se atira ao poema 
como se fosse ao abismo 
e faz um filho às palavras 
na cama do romantismo. 
Original é o poeta 
capaz de escrever em sismo. 

Original é o poeta 
de origem clara e comum 
que sendo de toda a parte 
não é de lugar algum. 
O que gera a própria arte 
na força de ser só um 
por todos a quem a sorte 
faz devorar em jejum. 
Original é o poeta 
que de todos for só um. 

Original é o poeta 
expulso do paraíso 
por saber compreender 
o que é o choro e o riso; 
aquele que desce à rua 
bebe copos quebra nozes 
e ferra em quem tem juízo 
versos brancos e ferozes. 
Original é o poeta 
que é gato de sete vozes. 

Original é o poeta 
que chega ao despudor 
de escrever todos os dias 
como se fizesse amor. 

Esse que despe a poesia 
como se fosse mulher 
e nela emprenha a alegria 
de ser um homem qualquer. 

Ary dos Santos, in 'Resumo'

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O que me faz sorrir

O que me faz sorrir?

um simples sorriso no ar
um olhar meigo a me olhar
uma flor a desabrochar
as ondas do mar
o Sol a nascer
o Sol a se esconder
a Lua a aparecer
uma noite de luar
o amor quando paira no ar
o que me faz sorrir?
o que me faz sorrir
é poder sentir

a vida a acontecer!


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

QUANDO A GENTE AMA - OSWALDO MONTENEGRO 01.wmv







Meu amor,a vida passa num instante

E um instante é muito pouco pra sonhar



Quando a gente ama,

Simplesmente ama

sábado, 13 de janeiro de 2018

Planos de Vida

Não faço mais planos na minha vida
porque ela, a vida, é que os quer fazer,
julga-se de todo a mais entendida,
e por vezes só nos quer surpreender

Tudo temos que saber enfrentar
e estar preparados para as mudanças,
mas nem sempre conseguimos superar,
desesperamos, perdemos as esperanças

Na vida nada é eterno, nada é permanente
hoje chove, amanhã o Sol de novo brilhará,
eu quero continuar a viver e ser crente
de que ela é bela e a felicidade voltará





quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

(HQ) Gracias a la Vida & Ich singe, weil ich ein Lied hab













Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me dio dos luceros, que cuando los abro
Perfecto distingo, lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo


Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido del abecedario
Con él las palabras que pienso y declaro
Madre amigo hermano
Y luz alumbrando, la ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dio el corazón, que agita su marco
Cuando miro el fruto, del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales, que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida, gracias a la vida
Gracias a la vida, gracias a la vida

Graças À Vida

Graças à vida que me deu tanto
Me deu dois olhos que quando os abro
Distinguo perfeitamente o preto do branco
E no alto céu seu fundo estrelado
E nas multidões o homem que eu amo
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o som do alfabeto
E com ele as palavras que eu penso e declaro
Mãe amigo irmão
E luz iluminando, a ruta da alma de quem estou amando
Graças à vida que me deu tanto
Me deu a marcha meus pés cansados
Com eles andei cidades e charcos
Praias e desertos, montanhas e planícies
E a casa sua, sua rua e seu pátio
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o coração, que agita seu marco
Quando olho o fruto do cérebro humano
Quando olho o bom tão longe do mal
Quando olho o fundo de seus olhos claros
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o riso e me deu o pranto
Assim eu distinguo fortuna de quebranto
Os dois materiais que formam meu canto
E o canto de vocês que é o mesmo canto
E o canto de todos que é meu próprio canto
Graças à vida, graças à vida
Graças à vida, graças à vida

sábado, 6 de janeiro de 2018

A morte não é uma tragédia. Tragédia é quando a gente não viveu.

Não é uma tragédia
Essas coisas acontecem. Um jovem adoece no verão. Um senhor é atropelado por um táxi. A biopsia aponta que o tumor é maligno. Essas coisas acontecem todos os dias. E todos os dias saímos de casa achando que jamais acontecerá connosco. Uma doença leva embora um pai. O médico comunica um exame preocupante. Uma moto atravessa um sinal fechado. Todos os dias isso acontece. E todos os dias nossos planos são os mesmos. Trabalho, almoço, trabalho, jantar.

Não acho que seja uma tragédia quando essas coisas acontecem com a gente. 
Dizemos: “Que tragédia! Morreu tão cedo!". Não acho que seja uma tragédia. 
Acho que a vida é um amontoado de caos e coincidência. Acho que hoje estamos aqui e amanhã não estamos mais. 
Uma tragédia é não agradecer por esse tempinho que estamos aqui. Uma tragédia é não valorizar a vida em família. Uma tragédia é trocar o sorriso do nosso filho pelo celular. Um passeio em família pelas preocupações do trabalho.
Uma tragédia é não abraçar as pessoas hoje. Uma tragédia é passar a vida em branco. Uma tragédia é achar que um dia vamos ser felizes, não hoje. Uma tragédia é achar que não vai acontecer com a gente. E a vida vai ficando para depois. Um dia eu mudo de emprego. Um dia eu digo que gosto dela. Um dia eu faço uma viagem. Um dia eu vou ser voluntário nesse projecto.
Não acho que seja uma tragédia uma jovem cheia de planos descobrir uma doença grave. Acho uma tragédia quando aprendemos a valorizar o que temos só depois de perder. Acho uma tragédia não termos ido ainda para aquela viagem dos nossos sonhos. Acho uma tragédia viver de aparências. Acho uma tragédia ter comprado coisas achando que isso seria felicidade. Acho uma tragédia trabalhar em algo que você odeia. Acho uma tragédia você passar a vida brigado com alguém.

A morte não é uma tragédia. Tragédia é quando a gente não viveu

Marcos Piangers




sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

“Disse a anciã curandeira da alma:
Não doem as costas, doem as cargas. Não doem os olhos, dói a injustiça.
Não dói a cabeça, doem os pensamentos. Não dói a garganta, dói o que não se expressa ou se exprime com raiva.
Não dói o estômago, dói o que a alma não digere. Não dói o fígado, dói a raiva contida. Não dói o coração, dói o amor. E é precisamente ele, o amor mesmo, quem contém o mais poderoso remédio.”
Hermana Águila – Ada Luz Márquez


segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Dia Mundial da Paz



P A Z

A palavra P A Z  significa PERDÃO, AMOR em modo ZEN


Mas quando o modo Zen passa a Zero, a Zanga e a Zaragata, o Perdão e o Amor ficam sem força e sem união e acaba-se a PAZ

Que o Perdão e o Amor se unam para combater a Zanga  e esta palavra possa mesmo alcançar o seu verdadeiro significado.