Conto de Natal
Um amigo para sempre…
Estava sentada à mesa do pequeno-almoço, pensativa, olhando para
lá das portas envidraçadas e segurando na chávena fumegante entre as mãos, como
que para as aquecer. A pensar inexoravelmente numa saida para os problemas,
encarando a vida como um estranho enigma por resolver. E agora com o Natal a
chegar, ainda sentia mais a sua solidão. Faltava-lhe as forças para encarar as
coisas que a faziam sofrer. Algo se agitou dentro de si.
Uma formiga ziguezagueava pelos braços da cadeira. Com um brusco
piparote fê-la levantar voo. Ao mesmo tempo que fez este gesto, algo caiu no
chão. Foi a jarra que estava em cima da
mesa com um desajeitado arranjo de flores já quase murchas. Paciência, queria
lá saber…. Precisava era de respirar ar fresco. Depois de tantos dias de chuva,
tinha que aproveitar o Sol que agora aparecia.
Saíu apressada, mas sem saber onde ir…..a brisa acariciava-lhe o
rosto, cresceu-lhe um ligeiro rubor…mas sob esse rubor havia ainda palidez, uma
tristeza instalada. Vagueou pelas ruas estreitas até chegar ao jardim, onde se
sentou pensativa….
O cheiro da erva aquecida pelo Sol enchia o ar. O que ela mais
desejava era não sentir-se assim tão só, tão perdida na vida….. mas também não
queria falar com ninguém, por isso despiu os seus pensamentos de palavras,
recostou-se e fechou os olhos. Deixou que o seu pensamento divagasse por entre
as recordações…
Pensamentos que perduravam ainda nas margens da sua consciência
nessa manhã quando, se apercebeu dos passos saltitantes na sua direcção sobre a
erva à altura do tornozelo. Abriu os olhos e viu ali parado um cãozinho a olhar
para ela, com um olhar tão meigo. Ela não sabia o que aquele olhar queria
dizer, mas quando ele se encostou às suas pernas, se sentou e olhou para ela
com um olhar suplicante e tão doce, ela teve a certeza que ele também estava só
como ela….que procurava companhia e carinho.
Tinha um ar tão dócil e ali ficou à espera que ela lhe fizesse
algum gesto. Ela por momentos, esqueceu tudo e acariciou o cãozinho que abanava
o rabo tão contente, com olhar suplicante, como se quisesse dizer-lhe “leva-me
contigo”.
E foi isso que ela fez, levantou-se e nem foi preciso dizer nada,
porque ele a seguiu, bem juntinho a ela, saltitante de alegria. A sua intuição
dizia-lhe que arranjara um amigo para sempre. Já não estava só no Natal. E por
mais estranho que possa parecer, sentiu que os seus problemas se tornavam agora
mais leves…
Maria Dias
Dezembro 2012
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