terça-feira, 18 de dezembro de 2012


Conto de Natal
Um amigo para sempre…

Estava sentada à mesa do pequeno-almoço, pensativa, olhando para lá das portas envidraçadas e segurando na chávena fumegante entre as mãos, como que para as aquecer. A pensar inexoravelmente numa saida para os problemas, encarando a vida como um estranho enigma por resolver. E agora com o Natal a chegar, ainda sentia mais a sua solidão. Faltava-lhe as forças para encarar as coisas que a faziam sofrer. Algo se agitou dentro de si.
Uma formiga ziguezagueava pelos braços da cadeira. Com um brusco piparote fê-la levantar voo. Ao mesmo tempo que fez este gesto, algo caiu no chão. Foi a jarra  que estava em cima da mesa com um desajeitado arranjo de flores já quase murchas. Paciência, queria lá saber…. Precisava era de respirar ar fresco. Depois de tantos dias de chuva, tinha que aproveitar o Sol que agora aparecia.

Saíu apressada, mas sem saber onde ir…..a brisa acariciava-lhe o rosto, cresceu-lhe um ligeiro rubor…mas sob esse rubor havia ainda palidez, uma tristeza instalada. Vagueou pelas ruas estreitas até chegar ao jardim, onde se sentou pensativa….
O cheiro da erva aquecida pelo Sol enchia o ar. O que ela mais desejava era não sentir-se assim tão só, tão perdida na vida….. mas também não queria falar com ninguém, por isso despiu os seus pensamentos de palavras, recostou-se e fechou os olhos. Deixou que o seu pensamento divagasse por entre as recordações…

Pensamentos que perduravam ainda nas margens da sua consciência nessa manhã quando, se apercebeu dos passos saltitantes na sua direcção sobre a erva à altura do tornozelo. Abriu os olhos e viu ali parado um cãozinho a olhar para ela, com um olhar tão meigo. Ela não sabia o que aquele olhar queria dizer, mas quando ele se encostou às suas pernas, se sentou e olhou para ela com um olhar suplicante e tão doce, ela teve a certeza que ele também estava só como ela….que procurava companhia e carinho.

Tinha um ar tão dócil e ali ficou à espera que ela lhe fizesse algum gesto. Ela por momentos, esqueceu tudo e acariciou o cãozinho que abanava o rabo tão contente, com olhar suplicante, como se quisesse dizer-lhe “leva-me contigo”.

E foi isso que ela fez, levantou-se e nem foi preciso dizer nada, porque ele a seguiu, bem juntinho a ela, saltitante de alegria. A sua intuição dizia-lhe que arranjara um amigo para sempre. Já não estava só no Natal. E por mais estranho que possa parecer, sentiu que os seus problemas se tornavam agora mais leves…


Maria Dias
Dezembro 2012


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