Num quarto de hospital estavam dois homens muito
doentes. Um deles ficava próximo da janela, o outro ficava mais isolado,
no canto do quarto.
O paciente isolado só podia ficar de bruços, porque
precisava, de tempos em tempos, retirar líquido dos seus pulmões.
Com o passar do tempo os dois pacientes tornaram-se
conhecidos e conversavam sobre diversos assuntos, entre os quais suas experiências de vida.
Certo dia o paciente perto da janela resolveu começar
a narrar todas as coisas que ele podia ver da sua janela para o seu colega de quarto.
Descrevia as árvores, as flores, os pássaros que
voavam pelos céus e no horizonte até era possível avistar os arranhas céus da
cidade. Dizia que havia crianças a brincar no parque, casais de namorados a
passear... e num outro dia até um desfile no parque, não dava para escutar
a músicas, mas era como um festival de cores.
O homem perto da janela descrevia tudo que via de
forma tão esplêndida, sem poupar os detalhes, que fazia o paciente isolado
fechar os olhos e imaginar tudo que seu colega de quarto narrava.
As semanas foram-se passando, e aquele homem mais
isolado vivia daquelas descrições que o levavam a imaginar tanta coisa que lhe
estava vedada observar. Todos os dias ansiava por aqueles momentos.
Certo dia a enfermeira veio para cuidar dos pacientes
e logo percebeu que o paciente perto da janela tinha morrido enquanto dormia,
todavia seu semblante era de paz e tranquilidade. Ela muito triste, pediu ajuda
para realizar a remoção do corpo.
O seu companheiro de quarto ficou desolado pela perda
do amigo.... mas entretanto pensou que tinha ver com os seus próprios olhos a
paisagem através daquela janela.
Quando julgou adequado, pediu à enfermeira que o
colocasse perto da janela onde seu colega de quarto ficava e a mesma
prontamente realizou o seu pedido.
Quando não havia ninguém no quarto o paciente, agora
perto da janela, fez um grande esforço para se levantar e observar a paisagem para
saber se era exatamente como ele imaginava. Quando alcançou seu objetivo ficou
surpreso ao ver que a aquela janela dava simplesmente para um muro pintado de
branco.
Ele ficou muito surpreendido e confuso, não entendia o
que isso significava e quando a enfermeira retornou ao quarto, ele contou-lhe
todas as descrições que seu antigo colega de quarto fazia e das coisas que ele
dizia ver através da janela. A
enfermeira disse que o seu companheiro de quarto não tinha como ver nada, porque ele era cego.
Sem entender, o paciente questionou-se e comentou com
a enfermeira o motivo do outro paciente fazer aquelas descrições com
tanta veracidade e entusiasmo... A enfermeira disse que talvez ele só
quisesse passar-lhe alguma coragem, pois ele, ali isolado, não se podia mover.
A felicidade pode existir em fazer os outros felizes, apesar dos nossos
próprios problemas. A dor, sendo partilhada, é metade da tristeza e a
felicidade quando partilhada é a dobrar.
Aproveito para destacar uma frase de Edgar Allan Poe
“Os olhos são as janelas da alma”
Sem comentários:
Enviar um comentário