Ó
tempo volta para trás
Dá-me
tudo o que eu perdi…..
Já
dizia a canção…
Que
era um fado
De
António Mourão!
No
bairro havia uma taberna
Que
servia de carvoaria,
Uma
capelista e uma padaria,
Um
lugar de frutas e legumes,
E
uma grande mercearia.
Na
taberna comprava-se o vinho
Da
adega cooperativa,
Levava-se
a garrafa a encher,
Ou
ía o pai, ou o filho sòzinho,
Porque
a mãe tinha mais que fazer.
No
Inverno comprava-se
Carvão
em brasa,
Para
aquecer as braseiras
De
cada casa.
As
braseiras das camilhas,
Algumas
feitas de croché
Com
agulhas de metal,
Que
serviam também
Para
as colchas e naperons
A
enfeitar o pechiché.
Sim,
porque o normal
Era
a dona de casa
Fazer
sempre o seu tricô
Enquanto
as crianças
Jogavam
o iô-iô…
E
os rapazes jogavam futebol
Com
uma bola de trapos,
Enquanto
as raparigas
Limpavam
os pratos
Na
capelista compravam-se
As
linhas, agulhas e botões
Coisas
de costura….
Porque
as lojas de pronto a vestir
Eram
raras
E
só os ricos lá podiam ir
Porque
eram caras.
Na
mercearia compravam-se
Secos
e molhados
Tudo
era pesado na balança
E
para os pobres
Havia
os fiados.
Compravam
açúcar
A
prestações,
Pagavam
no final do mês
Quando
se recebiam
os
ordenados.
Na
padaria compravam-se
Carcaças
com maminha
Amassadas
à mão,
E
bolos feitos de farinha
Que
mais pareciam pão,
Porque
os bolos finos
Eram
vendidos na pastelaria,
Os
éclairs, mil-folhas,
De
tamanha iguaria
Para
derreter o coração.
Nos
cafés havia estudantes
Que
se sentavam a estudar,
E
velhos a ler o jornal…
Um
café, um bagaço,
Um
cigarro de enrolar,
Num
silêncio total.
Ouvia-se
na rua
O
gemido dos eléctricos
Ou
os autocarros da carris
A
resfolegar,
Num
som banal…
Mais
parecendo um som
De
embalar.
Não
havia televisões,
Havia
tempo…
Fumavam-se
cigarros enrolados
Ou
cachimbo,
Algumas
Tertúlias ….
Para
entreter os corações.
Telefonava-se
das cabines telefónicas
Pois
não existiam telemoveis,
E
na oficina consertava-se tudo…
Desde
frigorificos, fogões
Radios
e até móveis.
No
sapateiro punham-se meias solas
Havia
um par de sapatos de Inverno
E
outro de Verão,
Davam-se
facilmente esmolas
Assim
pedia o nosso coração.
Era
assim a classe média
A
classe “remediada”,
Não
sentia falta do que
Não
existia… para nada.
É
para este tempo
Que
nos querem fazer
Regressar?
Tarde
mais
Para
se voltar.
A
globalização
É
escolha e abundância,
É
troca, é o estado supremo
Da
civilização,
Essa
civilização descartável
E
virtual,
É
o mundo insustentável
Que
o capitalismo
Construiu
E
que parece que deixou de servir
Porque
ruiu!
Maria
Dias
18.Fevereiro.2012
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