Quem
disse que a idade está na cabeça? É que
às vezes, ou a maior parte das vezes, o corpo é quem manda. A cabeça bem quer ser jovem, mas
o corpo não deixa.
Há
dias em que me levanto e a minha cabeça me diz que tenho 30 anos e eu levo um
daqueles dias, cheio de afazeres, ginásio, aulas, vida doméstica, num corre,
corre, cheia de energia e depois no final do dia o meu corpo lembra-me que
tenho 60. É um desmancha prazeres, é isso que ele é.... custa-lhe alguma coisa
deixar-me viver na ilusão algum tempo mais.
E
depois se dói aqui ou ali, a culpa é do tempo, porque é uma grande
instabilidade, ora faz frio, ora faz calor, mas eu quando tinha 30, o meu corpo
não dava pelas mudanças bruscas de temperatura. O meu corpo nem se importava
com o que a cabeça pensava, porque se sentia bem na sua plenitude. Sentia-se forte,
cheio de energia, sempre pronto para mexer....era um aliado à juventude da
cabeça.
Agora
está de costas voltadas para a cabeça, já nem quer saber se ela quer ter 30, 40
ou 50.
Às
vezes faz-lhe a vontade e deixa-a gozar aquela sensação de “eu quero, eu posso,
eu faço”, mas depois prega-lhe a partida e pergunta-lhe: ah julgas-te nova não
é, estás esquecida que os 30 já lá vão, só tens mais 30 em cima, então toma lá
uma dorzita para te lembrares, deixa cá ver onde vai ser....pode ser na zona
lombar....ah e aviso-te já...se continuas a abusar, amanhã vai doer-te a
cervical também.
E
depois dizem que a idade está na cabeça... Só se for com muita persistência
para conseguir ultrapassar a má vontade do corpo em relação a isso. Temos que o
contrariar. Tenho uma dor aqui e outra ali, eu sei que já não tenho 30, mas
posso ir, posso fazer, posso passear, o que não posso é abusar, senão o corpo
vinga-se.
Temos
que ir gerindo esta relação amor ódio entre a cabeça e o corpo. É que a cabeça
não se pode iludir demasiado, em vez de 30 tem que pensar que tem uns 50
saudáveis e ir enganando o corpo.
Eu digo-lhe baixinho: Olha lá eu sei que tenho
60, mas tem lá calma, não contraries muito a minha cabeça, eu também vou com
calma, mas quero ir, quero fazer, ainda quero viver.
15/Maio/2017
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