quinta-feira, 2 de maio de 2024

TRIGONOMETRIA AMOROSA

 

Às folhas tantas do livro de Matemática

Um Quociente apaixonou-se

Um dia

Doidamente

Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável

E viu-a, do Ápice à Base

Uma Figura Ímpar;

Olhos rombóides, boca trapezóide,

Corpo ortogonal, seios esferóides;

Fez da sua

Uma vida

Paralela à dela

Até que se encontraram

No Infinito:

"Quem és tu?" indagou ele

Com ânsia radicial

"Sou a soma do quadrado dos catetos.

Mas pode chamar-me Hipotenusa"

E falando descobriram que eram

O que, em aritmética, corresponde

A alma irmãs

Primos-entre-si

E assim se amaram

Ao quadrado da velocidade da luz

Numa sexta potenciação

Traçando

Ao sabor do momento

E da paixão

Retas, curvas, círculos e linhas sinusoidais

Escandalizaram os ortodoxos

das fórmulas euclidianas

E os exegetas do Universo Finito

Romperam convenções newtonianas

e pitagóricas.

E, enfim, resolveram casar-se

Constituir um lar.

Mais que um lar,

Uma Perpendicular

Convidaram para padrinhos

O Poliedro e a Bissectriz

E fizeram planos, equações e

diagramas para o futuro

Sonhando com uma felicidade

Integral

E diferencial.

Casaram-se e tiveram

uma secante e três cones

Muito engraçadinhos

E foram felizes

Até aquele dia

Em que tudo, afinal,

se torna monotonia

Foi então que surgiu

O Máximo Divisor Comum

Frequentador de Círculos Concêntricos

Viciosos

Ofereceu, a ela,

Uma Grandeza Absoluta,

E reduziu-a a um Denominador Comum

Ele, Quociente, percebeu

Que com ela não formava mais Um Todo,

Uma Unidade

Era o Triângulo,

chamado amoroso.

E desse problema, ela era a fração

Mais ordinária

Mas foi então que Einstein descobriu a

Relatividade

E tudo que era espúrio passou a ser

Moralidade

Como aliás, em qualquer

Sociedade.
😃😃


Millôr Fernandes.









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