quinta-feira, 30 de abril de 2020

ENQUANTO HOUVER CORONA NÃ VENHAM PÓ ALENTEJO!


1
Tô escrevendo, após a sesta,
Um poema pós de fora.
O viver aqui nã presta.
Vã-se já daqui embora!...
2
As notis, aqui, sã frias.
Nã aguentas, nem que te mates!
Com três mantas te resfrias,
Gelando a pel’ dos tomates!...
3
Os dias cá sã tã quentes,
Que, às vezes, nos falta o ari!
São, n' Amarleja, ardentes…
Nem na rua se pode andari.
4
A vida cá é bizarra.
Com o calor, nã se pode.
Os velhos usam samarra
E as velhas têm bigode.
5
Querem viveri no monti?
Aqui há animais bravos:
Gato-bravo, javali,
Raposa e saca-rabos!...
6
Às 5 há que alevantari,
Po mor de se ir ver o gado.
Nem sabem o qué andari,
Com um pé todo cagado!...
7
Nã temos carro de praça,
Nem sequer a internet!
Anda-se a pé (que desgraça!)
E, às vezes, de biciclete!
8
Nã temos praia po perto
E só se bebe bagaço.
Sapo grande, descoberto,
Prega-nos cada cagaço!...
9
As casas nã têm luz
E o lume faz-se no chão.
O gerador só produz
Luz pa ver televisão!
10
Pá vida, quinda nos resta,
É nos montis que se móra.
Já viram! Isto nã presta!
Vã-se, pois, daqui embora!...
11
Se antes era um deserto,
Hoje, continua a seri!
Nã os queremos cá po perto,
E, inda piori, a viveri!...
12
Poderão nos visitari,
Mas venham noutra altura!
Deixem-se aí ficari,
Enquanto esta merda dura!...

Abril de 2020
De um Alentejano, que só quer ajudari



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