As duas irmãs estavam sempre a inventar brincadeiras. A Maria era
a mais velha e era quem organizava essas coisas. Ou era a professora e diante
de uma plateia de bonecas todas sentadas umas atrás das outras, ficando a Joana
(a irmã mais nova) sentada à frente, prontas para ouvir as explicações em
Francês. Sim a Maria era a professora de Francês. Outras vezes brincavam aos
escritórios, outras aos espectáculos e era uma roda viva, um abre e fecha naqueles
cortinados que faziam de palco… que tempos imaginários aqueles…
Mas naquele dia, não havia brincadeira, elas estavam inquietas,
pressentiam algo. Na verdade quando o
pai chegou a casa, trazia um sorriso estampado na cara, como se estivesse
ansioso por revelar alguma coisa agradável e ao mesmo tempo quisesse prolongar
o mistério por mais tempo. A sua postura era a de um homem desejoso de fazer as
filhas felizes.
E foi então que, de mãos atrás das costas, perguntou a ambas, qual a mão que queriam
escolher, a esquerda ou a direita….elas gritavam ao mesmo tempo, esquerda,
direita, enquanto saltitavam à volta do pai, na expectativa do que iria
acontecer.
Escolhida a mão, o pai mostrou-a vazia. Elas pararam de saltitar e
os rostos sorridentes transformaram-se, como um final de tarde em que o Sol dá
lugar à noite fria. Só voltaram a sorrir quando o pai disse que aquela mão
correspondia ao bolso do casaco, e sugeriu que espreitassem lá dentro.
Foi tal a surpresa, o entusiasmo, a gritaria quando tiraram do
bolso uma cadelinha tão pequenina, tão
linda, quase a matavam de tanto apertar e de tanto a querer mimar…
Aquele dia ficou para sempre na memória da Maria e da Joana.
Maria Dias
Maio 2012
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